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sábado, novembro 29, 2003

Face a face: olhos nos olhos 

A perplexidade de Eduardo Prado Coelho, dada à estampa na página da sua crónica diária, tem algo de Júlio Verne, e algo de tremendamente assustador.
Porém, apesar do pessimismo presente na sageza das suas palavras, descobre-se um esgar de esperança: "No rosto abre-se a linha do olhar - essa noite do mundo, como Hegel um dia lhe chamou. Olhos nos olhos, como exigência máxima de transparência e sinceridade (trata-se de um ideal, não de uma realidade). E os seus olhos encontraram-se - como momento mágico em que a paixão emerge entre dois seres. O rosto é, como Lévinas sublinhou, o lugar onde o outro é Outro: por um lado, na proximidade absoluta da sua intimidade; por outro, na distância do infinito que cada olhar é. Por isso o rosto é uma prova ética: face a uma face exigimos mais de nós e dos outros. O rosto solicita-nos de uma forma diferente. Um rosto não se deixa ver - apenas podemos cair lentamente para dentro dele."
No olhar, qual espelho da alma, reside o nosso último reduto de verdade. Mais do que a essência radical de quem nos fita, um olhar devolve-nos a nossa própria imagem. " No dia em que fui mais feliz/ Vi um avião/ Se espelhar no seu olhar até sumir" e foi aí "Que um dia o céu/reuniu-se à terra um instante por nós dois/pouco antes do ocidente se assombrar ( in Inverno, Adriana Calcanhoto/António Cícero).
É num olhar que se oferece, longo, profundo, abissal, ...que existimos. O suporte da identidade não é o corpo (mero continente) mas o olhar - que resgatamos e que devolvemos.

sexta-feira, novembro 28, 2003

Agradecimento 

Ao Bloguitica pela referência e pelo link do Glosas.

quinta-feira, novembro 27, 2003

Politicamente Incorrecto 

O relatório que o Observatório da União Europeia para os Fenómenos Racistas e Anti-semitas (EUMC) encomendou, refere a ligação de grupos islâmicos e pró-palestinianos em acções anti-semitas. Tudo estaria no segredo dos deuses não fosse o jornal Financial Times ter tido acesso ao dito relatório. Ora semelhante conclusão ofusca a mentalidade complacente do eixo franco-alemão no que concerne ao fenómeno terrorista. É pena que não surjam mais relatórios demonstrativos desta realidade que se pretende abafar. Não para acicatar velhos ódios ou ressentimentos, longe disso. Mas para recolocar a questão na sua essência: o terrorismo tem a permissão, senão a ajuda, de parte das comunidades islâmicas europeias. Afinal, já ninguém se lembra onde viviam alguns dos suicidas do 11 de Setembro...!

America´s Cup 

Foi pena perdermos a Taça América, dificilmente esta oportunidade poderá, de novo, surgir, assim se esfumando a possibilidade de acolhermos a mais antiga competição desportiva de Mundo - 1851. Porém, acolhê-la, seria sempre pela porta do cavalo e não por pura legitimidade. De facto, a última embarcação vencedora foi a helvética Alinghi. Daí que, tivesse de ser um país europeu, com litoral marítimo, a acolher a vetusta competição. A opção foi Espanha. Ou melhor, a opção foi o decisivo interesse de um dos mais ilustres velejadores, o Rei Juan Carlos.
Valência ganhou para Nápoles, para Marselha e para Lisboa. Três orgulhosas Repúblicas curvaram-se aos argumentos de uma Monarquia. O elemento simbólico da escolha é muito mais pertinente do que aparenta ser...!

Santana versus Cavaco 

A última sondagem DN/Marktest, traz-nos algumas novidades de monta.
Cavaco Silva continua, qual primus inter pares, a liderar e a ser o "desejado" dos portugueses. Santana, apesar de ainda vencer os adversários de esquerda, caiu para quarto lugar nas preferências das boas almas lusas. Guterres, ultrapassou Santana e Mário Soares nas intenções directas de voto.
Parece, pois, que o duelo fraticí­da que se avizinhava, encontarr¡, naturalmente, o seu desenlace. De facto, Santana - desde a sua desdobragem em várias conferências, idas a jantares organizados pelas bases do partido, passando pelos protagonismos marialvas das obras emblemáticas alfacinhas propagandeadas por campanhas publicitárias milionárias, e, last but not least, as suas próprias prestações no telejornal da SIC - tem-se esforçado por controlar a agenda mediática, ou melhor, por a marcar. Mas, pelos vistos, parece que tanta exposição aos holofotes dos media não está a surtir o efeito desejado. Nem podia...!
Santana estava e está, manifestamente, a preparar o seu caminho para Belém. De vez em quando, lá aparece uma intervenção, sibilina, em que, enviesadamente, manda um recado para o seu arqui-rival, Cavaco. Que, por seu turno, se tem remetido a um silêncio sensato, maduro e observador. A postura de cada um é, claramente, definidora dos seus perfis.
Não se negam valores a Santana, muito pelo contrário. Mas falta-lhe o estofo, o fôlego, a envergadura do ex-primeiro-ministro. E, sobretudo, o que não convence é mesmo a tentativa de, a todo o custo, tornear a incontornável e natural candidatura de Direita- a do Professor. Como dizia Winston Churchill a um novato colega de bancada no Parlamento Britânico: os verdadeiros inimigos estão ao nosso lado; à nossa frente (trabalhistas), estão os adversáriosos !!!

terça-feira, novembro 25, 2003

Notável Blog 

Notável sim, porque os seus nóveis bloguistas, são, também, notáveis: Ana Gomes, Eduardo Prado Coelho, Jorge Wemans, Luis Nazaré, Luis Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva, Vital Moreira.
De sua graça : Causa Nossa!!! Propõe-se ser uma referência na esfera bloguística nacional. Mais do que um vaticínio, esta esperança é já, seguramente, uma certeza.
Só uma pequena avidez na nossa fremente curiosidade sobre o neófito blog - 22/11/2003 : será que E.P.C. irá responder à interrogação que, muito sabiamente, colocou no nosso fio do horizonte :"Mas haverá ainda verdades universais? E sobretudo que novas configurações do poder intelectual se fazem através do novo poder mediático? O intelectual tem que saber que a sua função é hoje sobretudo a de um tradutor de códigos culturais e que essa função implica uma análise cuidadosa e uma utilização sagaz do sistema dos "media". Precisamos ainda de intelectuais? Claro, a resposta é sim. mas como funcionam eles em tempo de "blogues"?Ficamos expectantes...!!!

segunda-feira, novembro 24, 2003

Winston Churchill: segredos de alcova 


O Daily Telegraph, anuncia que no dia 2 de Dezembro, irão à praça, na Christie's um conjunto de diversas cartas do grande estadista: nada mais nada menos que as relativas ao seu primeiro grande amor, Miss Pamela Plowden.

In Memoriam 


Faz hoje, 12 anos, que morreu Freddie Mercury. Vocalista e rosto dos britânicos "Queen", foi um dos maiores ícones da música contemporânea.

Pacheco Pereira, Massificação e Ensino 

Na sua crónica semanal, na SIC, PP, lamenta a massificação a que, mormente o ensino básico e secundário, foram votados. Queremos entender que tal facto implicará, no seu entender, uma diminuição da qualidade do próprio ensino. Porém, da sua pertinente e certa reflexão, ficam-nos algumas dúvidas. A democratização da sociedade trás consigo, fatalmente, a massificação aos mais variados níveis. Por isso é que se no tempo de PP o ensino era individualizado, tal se deve, principalmente, não a uma excelsa qualidade do ensino, mas, certamente, porque poucos eram aqueles que frequentavam os liceus, e mesmo os que concluiam a então chamada escola primária. Aliás, o próprio corpo docente também evoluiu com a sociedade. Se há 50 anos um professor do liceu era alguém muito bem qualificado, actualmente, esse nível de preparação, em relação às qualificações académicas da generalidade da população, só existe na docência universitária, e mesmo assim...!
Pois bem, a massificação - apesar da palavra denotar um tom pejorativo - não é um mal em si mesmo. Aliás, é consequência de algo bem positivo, ou seja, que determinado bem se tornou acessível a uma vasta maioria da população. No caso em apreço, o ensino - e, apesar de tudo, bem sabemos quais os graus vergonhosos de iliteracia em Portugal.
Estamos em crer que PP não se opõe à massificação. Tal seria um paradoxo absurdo na sua coerência reflexiva. Mas a crítica que lhe faz, permite intuir uma crítica, pelo menos velada, a tal facto. É que o que se retirou das suas palavras foi a negatividade do fenómeno.
Na verdade, outra coisa bem diferente, teria sido apontar a massificação como fenómeno inevitável no ensino, contendo, porém, efeitos perniciosos, mas ressalvando a sua imprescindibilidade para uma sociedade que se pretende mais homogénea e mais justa.
Propor um ensino massificadoramente individualizado, isso sim, é que seria o ideal, mas, infelizmente, parece-nos ser a verdadeira quadratura do círculo.

sábado, novembro 22, 2003

Curiosidade: Kennedy/Lincoln  

Por toda a net circulam diversos sites, por exemplo, aqui, aqui ou aqui, onde constam as coincidências entre a vida de J.F.K. e Abraham Lincoln. É deveras impressionante:
- Lincoln foi eleito para o Congresso em 1846; Kennedy em 1946;
- Lincoln foi eleito Presidente em 1860; Kennedy em 1960;
- Ambos os apelidos têm sete letras;
- Ambos se preocupavam com os direitos cívicos e tinham frequentado o curso de Direito;
- As mulheres de ambos perderam filhos quando estavam na Casa Branca;
- Ambos foram assassinados a uma sexta-feira;
- Ambos foram atingidos com um tiro na cabeça (ambos na nuca);
- O secretário de Lincoln chmava-se Kennedy e a secretária de Kennedy chamava-se Lincoln;
- Tanto os seus assassinos como os presidentes que lhes sucederam eram do sul;
- Os presidentes que se lhes seguiram eram ambos Johnson, sendo um nascido em 1808 e o outro em 1908;
- O assassino de Lincoln, John Wilkes Booth nasceu em 1839, o de Kennedy, Lee Harvey Oswald, em 1939;
- Ambos os assassinos eram conhecidos pelos seus três nomes, que continham, cada um quinze letras;
- Booth fugiu de uma sala de espectáculos e foi apanhado num armazém, Oswald fugiu de um armazém e foi apanhado numa casa de espectáculos;

J. F. K. 



Faz hoje 40 anos que o Presidnete dos Estados Unidos, John Fitzgerald Kennedy, foi assassinado, em Dallas. Kennedy foi a personalização do sonho americano. Provindo da velha aristocracia da costa leste, J. F. K., emprestou à America o que lhe faltava, uma família modelo, berço, passado, dinheiro velho. Enfim, uma família real à europeia.
J. F. K., para quase todos os americanos, foi o depositário de todas as esperanças. Mas, ao mesmo tempo alimentou e alimenta muitas controvérsias. Desde a sua saúde pereclitante à sua acção política. A sua morte, sempre envolta em mistério, como convém a alguém que, também por isso, ascendeu à categoria de lenda, ainda hoje é alvo das mais diversas especulações. Mas parece mesmo que foi morto por um tal de Lee Harvey Oswald. Facto que, concede-se, para muitos, será, talvez, difícil de aceitar. Será que tudo tenha sido assim tão simples?... sem conspirações, sem grupos organizados!!!
A mulher, Jacqueline Bouvier Kennedy, ajudou também a criar a auréola de glamour que envolvia o casal. Tudo se combinando para os tornar, aos dois, seres míticos do imaginário norte-americano.
Inquestionável é que foi um dos presidentes, ou o presidente, que mais marcou a América no séc XX. A qual, ainda hoje, não se recompôs com o seu assassinato e que ainda se sente sua orfã.

Terrorismo II 

José Manuel Fernandes, ontem, no Público, assinou um artigo didáctico. Na verdade, muitas vezes a qualidade de um artigo não está na forma, nas ideias, mas muito mais simplesmente, no modo como a questão é colocada. E, de facto, JMF apela ao essencial. Busca o busílis da questão, separando o trigo do joio. Revelando-nos o problema nú e cru, despido de roupagens enganadoras.
Numa altura tão crítica para o Mundo, é necessário ter as ideias muito claras. Depuradas, ou melhor, expurgadas de permissas falaciosas. Na verdade JMF, não pode deixar de ter razão. Vejamos.
O terrorismo é um fenómeno antigo. Nos seus contornos mais hodiernos, só tomou a sua verdadeira forma durante a Guerra Fria, em que foi instrumentalizado pelas grandes superpotências, que, assim viam a forma de influenciar os conflitos militares e políticos, sem neles participarem. Aliás, desde as Brigadas Vermelhas Italianas, Hamas, E.T.A., I.R.A., U.C.K., Sendero Luminoso e as bem conhecidas FP-25, assim como o caso de terrorismo a nível de Estado, da Líbia, entre muitos outros exemplos, todos, de algum modo, eram alimentados pela dinâmica oportunista da geo-estratégia política da Guerra Fria. E todos tinham um pendor nacionalista e, por isso, territorialmente localizados.
Mas, o terrorismo, nas suas vertentes mais contemporâneas, tem revelado uma faceta, como diz Pacheco Pereira, apocalíptica. Transmutou-se, criou redes internacionais, alicerçando-se em estados párias, e usa da vantagem de tudo quanto são as novas tecnologias. Como já é sobejamente conhecido, as redes terroristas arrebanham todos menos “infoexcluídos” ou pessoas pobres, sendo curioso que os terroristas do onze de Setembro eram provenientes das classes média, média alta, e dotados de formação superior.
Por outro lado, o terrorismo é, agora, à escala global, não se confinando a um dado território, mas ao Mundo.
Claro que estamos a tomar o termo terrorismo, reduzindo-o, de alguma forma, à Al-Qaeda e grupos extremistas ilslâmicos, pois, são estes que caiem dentro do conceito que aqui abordamos. Todos reconduzindo as suas causas justificativas, a uma só: desafiar o Ocidente, cujo paradigma são os E.U.A..
Fundamentam a sua actuação por várias razões: ou porque o Ocidente apoia a política de Israel, ou porque explora os países islâmicos pobres, ou porque quer dominar a nação árabe. Tudo é pretexto.
Contudo, há uma característica que lhes serve de mínimo denominador comum, e, por isso, de elemento identificativo. E é algo de terrífico. É que, pela primeira vez na história da Humanidade, se criam mártires voluntários, à medida. Não são suicidas que lhes chamam, ou Kamikazes, mas, repito, mártires. E assim são denominados, não sendo, sequer, vítimas do seu pseudo-inimigo. Os suicidas são fabricados à medida das necessidades dos seus líderes. Desde bombas humanas, a pilotos de avião suicidas, ou condutores de carros armadilhados.
O argumento destes mártires é pernicioso. Na vertente tradicional, o mártir é aquele que fiel aos seus valores, por honestidade, não renega o que é e aquilo em que acredita e, por isso mesmo, é morto. Numa pura atitude de coerência. Como Sócrates bebendo a sicuta. Mas na assustadora nova mundividência do mártir, ele cria-se a si próprio, idealizando o momento da morte. Não solitária. Mas infligindo a morte a terceiros. O suicida não se imola, livremente, com os seus ideais. Quer impor e quer arrastar consigo um rasto de destruição, de morte, de tragédia, de horror. O que o move não é a fidelidade aos valores em que diz acreditar, mas o ódio ao inimigo. A perspectiva de que parte para se afirmar é uma perspectiva de holocausto.
Mas mais subtil ainda, é que este conceito de mártir visa manipular, em absoluto, não só os simpatizantes da causa, como todos os que se lhe não opõem. Compare-se por exemplo, a um etarra que mata: é logo condenado, não há contemplação pela sua posição, mesmo sabendo-se que defendem a autodeterminação do país Basco. Ninguém dúvida que o seu acto é hediondo e ponto final. Mas um novo terrorista que se imola num atentado, ceifando outras tantas vidas? Parece que arrasta consigo todo um simbolismo de revolta, de humilhação amordaçada, de último grito. E parece induzir uma qualquer justificação para os seus actos. Por isso, é que o mundo árabe não se horroriza. E, no próprio Ocidente, muitas explicações, bem intencionadas, se avançam para este fenómeno. Há muita complacência. Enquanto os terroristas matam inocentes, o Ocidente enseja-os ao criticar a suas próprias lideranças. Mesmo o que se passou em Istambul é visto com alguma condescendência pelos ocidentais : os suicidas são mártires revoltados e são-no por retorsão contra a intolerável opressão sionista da Palestina ou Americana no Iraque.
O suicida quer-se fazer identificar com uma falsa ideia romântica de libertação pelo martírio. Ideia enganosa e viciante, que é brilhantemente utilizada pela nova mente terrorista. E só com um objectivo. Objectivo esse que assume a forma intolerável do aproveitamento dos sentimentos e valores ocidentais, para que, com a sua complacência e relativismo, possa aumentar o seu poder mortífero. E isto é execrável. Cobarde. Usa os mesmos valores do Ocidente para se justificar, mas usa a morte como arma, como princípio.
Num atentado terrorista, não são dois exércitos que se defrontam, são inocentes e civis contra uma máquina que destila horror, interrompendo e dilacerando a vida de muitos homens, mulheres e crianças. Conseguindo corroer a confiança e instalar, inexoravelmente, o medo!!! Esta é a diferença fundamental. E nem uma só mais se necessitará para sabermos de que lado estamos.

quinta-feira, novembro 20, 2003

Terrorismo 

Parece coincidência: no 11 de Setembro, dois aviões, duas torres; no Sábado passado dois carros suicidas em duas sinagogas; hoje, dois carros suicidas!!! Será que esta mentalidade terrorista pensa aos pares...?

Memorial 


Foram apresentados os oito finalistas para o projecto do Memorial do 11 de Setembro. Aqui.

Arte Lisboa 

Começa hoje a Arte Lisboa, a maior feira internacional portuguesa de arte contemporânea. Não é a ARCO, mas para lá caminha. Com 48 galerias em exposição, é o lugar ideal, tanto para descobrir talentos ainda na sombra, como para redescobrir os mais consagrados. Obrigatório.

Com Agustina 

Hoje tive o gosto, profundo, de assistir a uma conferência com Agustina Bessa Luís. Foi no âmbito dos Encontros do Porto 03, no Palácio da Bolsa. O tema era a televisão como instrumento decisivo na evolução da sociedade actual.
Após um painel de luxo, constituído por Mário Mesquita, Mário Bettencourt Resendes, António Costa e António Lobo Xavier, Agustina foi um sortilégio.
A intuição fina, o espírito observador único, a astúcia das suas palavras, denotam um invulgar e arguto perscrutar do mundo. Cada frase sua... é uma sentença, uma definição última e explicativa, lapidar. Com ela, tudo se nos revela... simplesmente!
Como quando nos diz - não será uma citação mas aproxima-se da literalidade - que quando um homem se deita no sofá de um psiquiatra, com ele se deitam um crocodilo e um rato. Com isto querendo dizer que o ser humano tem a marca indelével de 500 milhões de anos de evolução, estando em si inscritos os instintos dos répteis e dos mamíferos. Tudo para dizer que, afinal, a televisão, por muito inquietantes que possam ser os seus efeitos, não afectará, o ser humano na sua essencialidade. Ou seja, a estrutura do Homem, na sua radicalidade, não é melindrada, sequer. Ressalvando, porém, todos os outros efeitos perversos, mas num vector, meramente, conjuntural. Aí, socorre-se da imagem do lugar da televisão no lar, como pista para decifrar a sua real importância na própria sociedade.
Agustina utiliza, pois, uma metalinguagem, decifradora. Busca os arquétipos e interpreta-os de forma quase divina. Agustina é, insustentavelmente, augusta!!!

quarta-feira, novembro 19, 2003

Constituição Europeia e Tradição Cristã 

NMP do Mar Salgado, vem relançar uma polémica que ultrapassa, e em muito, a mera espuma dos dias. A questão da referência à tradição cristã, ou não, na futura Constituição Europeia. A esse propósito escrevemos, ainda o assunto ocupava a agenda mediática, que: "(...)os representantes dos estados europeus aí presentes (na Convenção para o Futuro da Europa) – de resto, não sufragados democraticamente, e, por isso, detentores de uma legitimidade indirecta, leia-se, duvidosa – acharam por bem plasmar os pilares culturais, em que assenta este projecto Europeu de arquitectura supra estadual. De relance diremos que referem a Antiguidade Clássica, Grécia e Roma, o século das Luzes, o Racionalismo, entre outros.
Porém, olvidou-se ou melhor, preferiu-se omitir qualquer referência à tradição humanista cristã. Por ser uma solução de compromisso, diz-se. Aliás, a questão foi matizada, mediaticamente, e reconduzida, de forma ardilosa, à questão de saber se deverá ou não fazer uma referência a Deus.
Ora, o ínvio intuito é fazer crer que a justa referência a toda a tradição filosófica cristã transporta consigo a subjugação à ideia de Deus, tornando o tratado constitucional refém de uma visão religiosa do mundo. Não laica. Ou seja, em ultima ratio, que pressupõe um ascendente do poder espiritual sobre as instituições políticas, ou seja, sobre o poder temporal.
Estamos pois, perante uma questão enganosa e manipuladora: se por um lado se concede que não se devam criar atritos entre aqueles que professam uma confissão religiosa e os laicos, o que seria possível com uma referência directa a Deus, qual constituição norte-americana, por outro, ao absolutizar a questão, não referindo sequer a existência do legado cristão, renega-se todo um passado, toda uma História, todo um percurso milenar, impossível de escamotear. Ora, pelo atrás enunciado se torna manifesto que convocar a ideia de tradição filosófica cristã, não é referência directa a Deus ou a um deus. E a sua não consagração será o esquecimento amnésico, ingrato e doente do passado do qual a Europa é umbilicalmente tributária. Um dos pilares base onde se funda a matriz cultural europeia, reside, precisamente, na matriz cristã da nossa civilização. Tal facto é óbvio e manifesto. Mas, contudo, pretende-se sobre ele lançar um manto de um pernicioso e concupiscente silêncio.
Não será, por isso, discipiendo sublinhar que toda a tradição Clássica, de que se arroga, e bem, o projecto da constituição, chegou aos nossos dias pela mão da Igreja, que após a queda do Império Romano e inspirada na sua organização administrativa, foi a única instituição que sobreviveu e resistiu às invasões bárbaras e fez a ponte para os tempos que se seguiriam. Foi o humanismo cristão que permitiu construirmos a nossa sociedade baseada na valorização do indivíduo e da pessoa humana enquanto tal. Apesar de muitos mas, foram os Princípios Cristãos o gérmen do pensamento livre e responsável dos dias de hoje. É toda esta mundividência, geradora de um profundo respeito pelo outro, que, ironicamente, permite que se ouse, agora, esquecer a referência a esse alicerce maior da nossa civilização ocidental.
Numa apreciação superficial dir-se-ia, à primeira vista, que tal situação se justificaria no respeito e na boa intencionalidade de querer tornar o projecto o mais vasto e aglutinador possível. Capaz de assimilar todos os pequenos nichos culturais do espaço europeu.
Nada mais errado. Somos hoje o que somos, fruto daquilo que fomos e não daquilo que seremos. Assumamo-nos como tal, sem complexos nem tibiezas. Se hoje é possível que no espaço europeu convivam várias nações, várias culturas e várias religiões até, então é porque a Europa é isso mesmo, o convívio construtivo da diversidade. Circunstância que, reafirma-se, reside numa cultura milenar, profundamente eivada pela doutrina humanista cristã.
Parece evidente também, que não será pela Turquia poder vir a fazer parte deste tão valoroso projecto que servirá de obstáculo a tal facto.
A verdadeira razão desta questão – que nunca se deveria ter colocado – é o pensamento oitocentista e novecentista, do laicismo, do republicanismo e do socialismo a querer ocupar e usurpar aquilo que não é só fruto dos seus combates. Aliás, a esquerda é useira e vezeira, em reivindicar determinadas conquistas como suas, quando, na verdade, são conquistas da sociedade como um todo. Veja-se, por exemplo, o caso dos actuais movimentos da “nova esquerda”, como o anti-Globalização, que ao defenderem valores como a solidariedade, a ecologia, fazem crer que são os depositários dos mesmos.
Como se vê, esta questão ultrapassa, e muito, a sua contingência presente. E é tão mais importante, porque radica o seu âmago num plano superior, o plano do simbólico. Sendo que é neste aspecto que tudo se assume e justifica: a vã pretensão de um corte, formal, com as raízes religiosas pelo renegar de todo o passado cristão, denuncia, por um lado, a falta de emancipação das ideias socialistas sobre toda a tradição cristã ocidental. Por outro, a dificuldade em lidar com o presente e, simultaneamente, com a sua herança histórico-cultural, mostra à saciedade e à evidência, a enorme imaturidade do próprio projecto Europeu."

terça-feira, novembro 18, 2003

A vitalidade de Vital  

Desde já faço aqui a minha declaração de interesses: estou quase nos antípodas ideológicos de Vital Moreira. Porém o artigo de hoje, nas páginas do Público, com a excepção da adenda 2, é escorreitamente descomprometido. Aliás é fruto de uma madurez reflexiva que desmonta e interpreta, magistralmente, a actualidade nacional. Sobretudo a referência expressa à macrocefalia lisboeta. Nunca como hoje o país se decidiu em função da região mais rica da Península Ibérica.
Quanto ao famigerado TGV, só faltou a referência a que, na verdade, e ao fim de quase novecentos anos de nacionalidade, Portugal curvou-se aos interesses espanhóis. De facto o traçado "imposto" pelos nuestros hermanos, implica que Madrid seja, sempre, repito, sempre, ponto de passagem obrigatória para ir para o Norte da Europa e vice-versa. É que a linha que passa por Vigo termina...nos Pirinéus!!!

Parabéns 



Os 75 anos do Rato Mickey demonstram que o ímpar personagem criado por Walt Disney, fazem do seu criador não um mero "aprendiz de feiticeiro", mas um verdadeiro mágico, um "fazedor de fantasias"!!!

"Iraqification" 


Ou melhor, a Iraquização - ou, ainda melhor, dar o Iraque aos iraquianos!!! Esta é a nova plumagem com que a administração norte-americana cobriu a sua política relativamente ao Iraque. Aliás, tal volte face tomou forma na semana passada aquando da entrevista de George W. Bush à cadeia de televisão ABC e ao Financial Times . Aí defendeu que os Americanos deveriam sair do Iraque. Frase que provocou uma miríade de protestos e reacções, as mais díspares. De oportunistas a calculistas, de tudo um pouco lá coube. Mas a verdade é que logo o sentido de tão polémicas palavras foi esclarecido. Vejam-se as declarações de Paul Bremer, o responsável máximo americano no Iraque. Literalmente diz : "A nossa presença passará de uma ocupação a um convite". Ora, nesta simples frase, reduz-se, à sua essência, a nova perspectiva americana. De facto, espera-se que, em Junho de 2004, o Governo interino Iraquiano assuma funções. Ou seja, paulatinamente, e ao longo destes meses até meados do próximo ano, a Coligação cederá o seu poder de força ocupante, às autoridades iraquianas.
Na verdade, a incauta razão justificativa de tal decisão, não é de natureza magnânime. Bem pelo contrário. É evidente que Bush está a braços com uma crescente contestação interna e lá para o Outono de 2004, irá a votos. Ora, poder-se-ia dizer que os últimos acontecimentos - atentados terroristas - são a explicação para esta mudança de atitude, mas, os votos, é que aqui são o real elemento catalisador desta apressada inversão estratégica. E nem se diga que os E.U.A. querem agradar à França que sempre pugnou por uma solução gizada numa devolução do Iraque a si próprio.
Realmente, o progressivo abandono das forças da Coligação do solo iraquiano, é mais do que interesseiro. Deixar o Iraque com o poder, de direito, do país, é uma falsa questão. Todos sabemos que um país devastado, sem estrutras políticas, económicas e sociais sólidas, não é capaz de se constituir como uma democracia. Facto que a Coligação nos quer fazer crer. É puramente ilusório pensar em tal. A Coligação terá, inelutavelmente, de exercer o poder de facto no Iraque. E por muito e longo tempo. Caso contrário será o abandono, puro e simples, do país que se quiz resgatar ao despotismo cruel do seu ditador. O que acarretará o descrédito total das posições anglo-americanas e australianas. E já agora, espanholas e portuguesas.

segunda-feira, novembro 17, 2003

Anonimato 

Não há dúvida que o tema é um assunto com particular pertinência, aqui, na blogosfera. E, mais uma vez, o Bloguitica, veio alertar para a veiculação de informação, sem rosto, e de teor difamatório.
Neste, como noutros casos, o teor das acusações é sedutor: corrupção, favorecimento! E num campo, paradigmático: as ligações do betão com as autarquias - só falta a bola!!!
A ocultação de identidade é sempre um canto de sereia. Principalmente, quando, como no caso referido, vem denunciar crimes e abusos de poder. Aqui, o autor, justificado pelo teor das afirmações produzidas, esconde-se sob o manto do anonimato. Tal facto, parece compreensível e sê-lo-á para muita boa gente. Só que é altamente manipulador. Porquê? Porque, muitas vezes, traz ínsito consigo o simbolismo de que o seu autor, refém dos seus condicionalismos objectivos, se livra do peso na sua consciência e fiel ao que julga ser o interesse público, denuncia. Só que, na verdade, ninguém sabe se é uma calúnia.
Ora, na maioria das vezes, tudo não passa de fogos-fátuos, de difamações vis e torpes. De facto, a ocultação de identidade serve de expediente para o anónimo prosseguir o seu interesse. Como ? Ao insinuar, ou ao afirmar, cria desconfianças que poderão ser devastadoras para a imagem de uma pessoa ou instituição. E não só!!! Da facto, através de opiniões anónimas, vão-se lançando ideias, debates, vai-se gerindo toda uma agenda que poderá ter um objectivo muito concreto. Eminentemente pessoal. E que pode escapar ao menos incauto dos leitores. É que toda a suspeição é pouca. Pois, o dado mais curioso é que o anónimo pode jogar com a dúvida que a falta de identidade levanta. Seria a conspiração perfeita.
Por outro lado, há sempre meios de accionar as devidas instâncias e denunciar junto dos orgãos judiciários algum facto mais grave. Quem actuar de boa fé, assim o fará. E furtar-se-á ao uso, ilegítimo, do anonimato.
Já agora, conviria aqui esclarecer que uma coisa são anónimos, em absoluto, e outra coisa, são aqueles que, apesar de tudo são identificáveis. Como é o caso do Pur Prazer, em que, como o próprio diz, há mais pessoas que sabem quem é. Mas mesmo assim as dúvidas que se levantam mantêm-se. Apesar da transparência das palavras do Pur Prazer, da sua boa intencionalidade, e das justificações que encontra, as objecções que se colocam ao uso do anonimato, colhem todas, soçobrando todos os demais argumentos a favor.
É que o perigo das calúnias e das manipulações é tão insidioso, que a proliferação de mais blogs anónimos fará, com certeza, da blogosfera, um reino de sósias, arrastando consigo a sua descredibilização.

sexta-feira, novembro 14, 2003

Paula Rego: de regresso 




Uma das maiores pintoras portuguesas da actualidade está de volta. Pronta para nos confrontar com a materialização pictórica da estranha dureza e crueza das suas imagens.
Que, nos seus mais recentes trabalhos, se traduz, de forma manifesta, numa masculinização das suas mulheres, sempre objecto da violência e abuso dos homens. Um universo, sugerido talvez, pelo reflexo de uma mundividência ainda e sempre ligada a uma sociedade chauvinista, em que a autora cresceu. Como a mesma disse, numa recente entrevista, em que afirma ser portadora não de uma mentalidade revolucionária mas burguesa.
Temos para nós que o universo de Paula Rego é habitado pelo fantasma da emancipação da mulher, algo que, seguramente, tem como adquirido, mas com o qual a sua sensibilidade, eminentemente feminina e burguesa, não se reconcilia.
Todas estas perplexidades estarão emolduradas, na nova série de trabalhos expostos, de 8 de Novembro a 31 de Dezembro, na Galeria 111, sob o tema "Jane Eyre", inspirado no romance homónimo de Charlotte Brontë.
No Natal sairá um trabalho emblemático da autoria de John McEwen, "Paula Rego", editado pela Bertrand, para a ficarmos a conhecer melhor. Aperitivo para um main course de excelência: 2004 trará uma grande retrospectiva da sua obra em Serralves!!!

quinta-feira, novembro 13, 2003

Diz respeito a cada um de nós 

No Reino Unido começou uma companha de sensibilização da população relativamente à pobreza que afecta, sobretudo, crianças, levada a cabo pela oganização Barnardo's.
No Reino Unido, um dos faróis civilizacionais, da ainda mais supinamente civilizada Velha Europa, existem cerca de 3,5 milhões de crianças que vivem na mais completa pobreza. Cerca de um terço de todas as crianças inglesas. E para que tal facto não passe despercebido, a aludida organização ilustrou a sua companha com imagens chocantes... para que assim se fechem os olhos, mas que se abram os da consciência.

A qualidade da classe política 

Na TSF, no último programa "Pessoal e Transmissível", Nuno Severiano Teixeira afirma que para que possa haver um melhoramento na qualidade da classe política nacional deveria:
1º- Haver melhor remuneração dos cargos políticos, que são mal pagos.
2º- Condições de prestígio desses mesmos cargos;
3º- OS POLÍTICOS DAREM-SE AO RESPEITO.

Palavras para quê......???

Anonimato 

Não posso estar mais de acordo com a questão, muito pertinentemente, levantada pelo Bloguitica, logo secundado pelo Lápis de Côr.
De facto como já referi aqui no Glosas, o anonimato é uma arma. Não é um refúgio. Mas um ataque. Porque o seu objectivo, só muito raramente, será a defesa.
Uma das grandes vantagens é que o "anónimo" sabe três vezes mais: sabe o que a sua máscara sabe; sabe o que sabe; e sabe o que os outros - que dão a cara - sabem! E desta virtualidade de uma cognoscibilidade tríplice, retira as suas conclusões. Podendo, pois, de forma ínvia, fazer afirmações cujo alcance não poderá ser, de todo em todo, realizado por quem as lê. Aliás, poderá facilmente formatar e manipular a interpretação do receptor. Esse é o seu desiderato!!!
Por outro lado, a facilidade com que na blogosfera proliferam os blogs anónimos, ou pelo menos não identificáveis, é revelador da cepa de que está eivada a cultura da cidadania nacional. Como, aliás, justamente refere o Bloguitica. Daqui se infere que os 40 anos de ditadura que o nosso país viveu, deixaram sequelas que, mesmo nas gerações do pós 25 de Abril, ainda se reflectem.
Assumir o anonimato - ou seja, não se assumir - é um indicador do próprio sentido de partilha do seu autor. Que, assim, reserva a verdade, ou pelo menos, a verdadeira aparência da verdade para si só.
Mas mesmo que o recurso a tal expediente seja meramente recriativo, esta nova criação , para todos os efeitos, deveria ter um rosto. Uma alma. Se não, toda a sua essência é vã. E a todos é legítimo fazer recair sobre ela - essa palavra sem face - o anátema da suspeição.

terça-feira, novembro 11, 2003

Pela Lusa Atenas 

É de pasmar a aviltante reacção dos estudantes do ensino superior, especialmente, os da Academia de Coimbra, ao projecto de Lei de Bases de Financiamento para o Ensino Superior.
Pior que a ilegalidade inerente aos seus actos - de resto passíveis de procedimento criminal - é arrogância do seu comportamento. Os estudantes não querem fazer ver o seu ponto de vista: querem impô-lo!!! Os estudantes estão-se nas tintas para a acção social escolar : alguém ouviu falar de mais justiça social!!! Os estudantes esqueceram-se de pugnar por uma melhor qualidade de ensino: o que é isso?!!! O que é que os estudantes querem? NÃO PAGAR PROPINAS!!!
E, infelizmente, fazem-no de uma forma miserável: pela força. Com cadeados. Recorrendo a um autocarro para obstruir a entrada - não meramente simbólica - da Universidade.
Será porventura legítimo o meio utilizado? Tal pergunta nem merecerá resposta.
Mas se o significado dos seus actos ficasse só por aqui, o que já seria grave, não era alarmante.
O que realmente inquieta é a percepção de que, para estes doutores, vale TUDO!!! Não olham a meios para atingir os fins. Maquievel no seu melhor. O presidente da Associação Académica, qual Príncipe, arroga-se o direito de convocar e de proclamar aos sete ventos que mais manifestações, de igual e inominável índole, estarão na forja. Com possível sequestro de estudantes e demais pessoas!!! Onde é que estamos? Acaso o país se transmutou para uma República coimbrã?
O Estado de Direito não pode ser complacente com manifestações irresponsáveis, graves e violadoras dos mais básicos direitos dos cidadãos. Feitas, conscientemente, sob o manto romântico e diáfano da contestação estudantil. Só que aqui a questão não é - qual Maio de 68 - a Liberdade, mas o vil metal...

Parabéns 

Queríamos daqui endereçar um voto de felicitações ao blog Lápis de Côr, pelo novo look apresentado. De realçar a qualidade e interesse dos conteúdos que tem publicado.
Continuação de boas glosas Lápis de Côr.

segunda-feira, novembro 10, 2003

Ainda a vizinha real boda  

Muitos rios de tinta têm corrido, na imprensa nacional e internacional, sobre o casamento do Príncipe Filipe de Espanha e a sua prometida, Letizia Ortiz Rocasolano (Ortiz do pai e Rocasolano da mãe, porque com nuestros hermanos é ao contrário). Quase todos os comentários são unânimes em considerar que é um upgrade da monarquia aos novos tempos, que demonstra uma atitude clarividente por parte da coroa espanhola, na forma como encara o seu papel e o seu futuro.
Sem dúvida que não é discipiendo referir que, sendo a noiva jornalista, tal facto implica uma adesão e um assentimento, quase natural, do 4.º poder à monarquia. Mas não só.
Os sectores mais progressistas da sociedade espanhola vêm com muito bons olhos o real enlace: a divorciada, inteligente, activa, moderna, afirmativa, trabalhadora noiva com o príncipe, declara uma emancipação da monarquia aos seus conceitos tradicionais. O que lhes cai no goto.
Por seu lado, os sectores mais integralistas, por muito que não vejam este casamento como ideal, não poderão deixar de se render ao mesmo, pois, não querem estragar a mise en scène e arriscar uma legitimação à contestação do próprio regime - "engolem o sapo"! Até porque estes meios mais conservadores já tiveram direito a um pequeno gosto: é que a filha mais velha do rei, a Infanta Helena - não fora a lei Sálica seria a herdeira do trono - casou com um aristocrata, D. Jaime de Marichalar. Portanto, o seu assentimento estaria sempre assegurado.
Ao mesmo tempo, outra parte da sociedade revê-se, plenamente, no casamento do andebolista basco, Iñaki Urdangarín, com a Infanta Cristina. Além da região de onde provém, pertence ao mundo do desporto de alta competição, tendo, inclusivé, na respectiva selecção nacional, dado muitas alegrias aos espanhóis.
Desporto, aristocracia, imprensa: fazem a tríade que, seguramente, coroará de sucesso a secular monarquia espanhola

domingo, novembro 09, 2003

Novo blog Mindelo-Vilacondense 

De sua graça : Ouriço Cacheiro. Não é espinhoso e recomenda-se!!!

sábado, novembro 08, 2003

Novo blog com água no bico 

A notícia é escaldante. António Guterres já se mexe - literalmente - para assumir a sua candidatura à Presidência da República. Se não acredita click aqui.
O neófito, viu a luz dos chips no passado dia 1 de Novembro - dia de todos os Santos. Hum!!! Será que este Guterres quererá ser beatificado?
Prof. Cavaco ponha-se alerta : eles já estão ao ataques!!!

quinta-feira, novembro 06, 2003

Pura Lata 

Ao ver a gigamanif dos putativos neurónios da nação, fica-nos um sério receio: será que os nossos jovens universitários andam a tirar o curso para pagar propinas? É que é tal o seu entusiasmo e voluntariedade, tão absoluta a sua indefectibilidade e determinação...!!!
Se víssemos o seu animus corporizado na reivindicação de uma melhor qualidade do ensino, de melhores instalações, de mais acção social, de uma maior qualidade do corpo docente, de melhores programas de intercâmbio universitário, de uma mais justa distribuição dos encargos das propinas tendo como bitola os rendimentos efectivos das famílias... aí sim, acreditariamos na sua boa vontade. Mas qualquê, o lema não é : "pague quem pode" mas "não pagamos"!!! A conclusão a tirar é que os cerca de 10.000 a 15.000 manifestantes são todos filhos de gente rica. É que, pela revolta, estamos em crer que todos e cada um dos ufanos manifestantes irá pagar os 70 Euros mensais - 14 contos - isto é, o topo da tabela. Ou, então, são todos muito solidários com os tal irão pagar!!!
Ora, a questão é outra. É, pura e simplesmente, falta de sentido cívico. Dentro de cada geração, quem frequenta a universidade, em Portugal, infelizmente, é uma minoria. O ponto de partida para referenciar a questão, não pode, pois, ser o país que poderíamos ser, mas aquele que somos. A grande parte limita-se a concluir o ensino obrigatório ou complementar. Se tanto. Depois, vão directamente para o mercado de trabalho. São humilhantes as taxas de absentismo e abandono escolar, de trabalho infantil existentes. Não podemos, por isso, deixar de afectar as energias do país capitalizando-as para a resolução destes problemas.
Ao mesmo tempo, o ensino universitário - pedra angular para o desenvolvimento do país - não é ensino obrigatório. Para lá vai quem quer. Por isso, não parece ser demais que se peça algum sacrifício a quem tem o privilégio de frequentar um curso superior. Ainda por cima, quando esse sacrifício é quase simbólico, uma vez que, em média, o custo anual de um aluno do superior ao estado ronda os 4.500 Euros, e - no escalão máximo - o valor efectivo a pagar é de cerca de 800 Euros.
Já agora, conviria lembrar que aquelas famílias que se substituem ao estado na educação dos seus filhos - pagando do seu bolso a sua educação em instituições de ensino particular - não têm qualquer benesse, por parte deste. E sabemos que, muitas vezes não é uma opção a frequência de estabelecimentos de ensino particular e cooperativo.
Por outro lado, o custo ao estado dos cursos não é homogéneo. Um aluno de medicina será muito mais oneroso ao erário público do que o de um curso de letras.
Algumas destas interrogações, se, realmente, fossem aventadas e invocadas pelos estudantes, só lhes credibilizariam o discurso. Porém, o seu objectivo não é uma sociedade mais justa e solidária mas... um bolso mais recheado!!!

terça-feira, novembro 04, 2003

Irresistível 

A frase de Júlio Pomar a propósito do livro de poesia que hoje publica: "na Poesia todos os sentidos caiem em cima da Palavra". O Mestre pinta as letras com as mesmas cores de sageza que usa nas suas telas!!!

Médio-Oriente e Islão 

Um dos rostos mais conhecidos do partido trabalhista israelita, Avraham Burg, num artigo de antologia, lançou os dados para uma nova mundividência sionista do conflito israelo-palestiniano. Nesse artigo , empreende uma profunda e até dolorosa reflexão em jeito de mea culpa , a que não podemos ficar indiferentes. Ao mesmo tempo, avança com explicações sobre o fenómeno do Terrorismo, nomeadamente dos bombistas suicidas.
Por outro lado, a escalada de violência no Iraque, que inclui atentados contra organizações humanitárias, como a Cruz Vermelha, produziu o mais sangrento ataque às forças da ocupação, desde o fim da Guerra.
Ora, estes dados sobre o Médio Oriente, fizeram relembrar, algo que escrevi aquando do 11 de Setembro. Sem dúvida, uma qualquer análise sobre esta zona, deverá ter sempre como referência obrigatória o contexto histórico e sócio-cultural. São estes padrões que, inelutavelmente, pré-determinam, muitos dos factos que ocorrem. Ou seja, toda uma idiossincracia que, para nós ocidentais, não pode ser partilhada e só, muito dificilmente, compreendida.
Por isso aqui transcrevo parte desse referido texto, que contém uma curiosidade mais do que perturbadora e que lança algumas pistas:
"Mas por mais cruel que pareça, na verdade, o problema que existe é, eminentemente, civilizacional. Não é fruto dos princípios sob que assenta o Islão, aliás, os da tolerância e do respeito, mas do uso que, historicamente, os muçulmanos dele fizeram. No fundo, a questão civilizacional, deve, isso sim, é ser bem definida, nos seus claros contornos, pois só assim é possível evitar xenofobias preconceituosas e, por conseguinte, enfrentar o problema para o solucionar.
Primeiro de tudo, há que ter em conta que o Islão, que, etimológicamente, quer dizer paz, não se impôs, como o Cristianismo, sua religião meia-irmã, pela mesma forma.
Nos primeiros séculos de Cristianismo, a adesão de novos fiéis era conseguida através da conversão, fenómeno í­ntimo e individual, fruto de uma relação directa com Deus. O Cristianismo cresceu com a palavra.
No Islão, Deus, é uma entidade sempre inatingí­vel, existindo um fosso entre Alá e os homens. Historicamente, a conquista militar foi quase sempre condição da sua difusão. Daí­, a eterna promiscuidade entre religião e polí­tica, que os Árabes têm enorme dificuldade em dissociar. Uma foi condição da outra. O Islão cresceu com a espada.
Descendo ao caso concreto, dir-se-á que, apesar de todas as justificações, o sucedido naquela triste manhã do dia 11, não tem paralelo na história. Mas, os frutos não caiem longe da árvore. De facto, no século XI, no Próximo Oriente, mais especificamente, no Cairo, surgiu uma seita religiosa e polí­tica (repare-se nesta constante coexistência) que se impôs pelo terror, a seita Ismaelita de Alamut. Visava, sobretudo o confronto dos cristãos e das cruzadas, que, como se sabe, haviam recuperado Jerusalém (faça-se o paralelo com a actualidade). Internacionalmente, ansiavam conquistar o poder polí­tico. Esta seita foi criada em volta de um prí­ncipe, Hassan ben-Sabbat, que ficou conhecido para a posteridade como "O Velho da Montanha" ( Bin Laden também anda pelas montanhas Afegãs). Era um muçulmano xiita, que não sunita, diferenç que aqui não abordaremos. O príncipe foi expulso do Cairo (tal qual Osama Bin Laden da Arábia Saudita, embora não fosse Egípcio) e instalou-se na Pésia, ou seja o actual Irão, bem ao lado do Afeganistão. Aí­ reunia a sua seita e, do castelo de Alamute, partiam os seus homens na suas incursões sanguinárias contra os inimigos. O lí­der, nunca aparecia em público, vivia refugiado na biblioteca do castelo. A seita espalhou-se de tal forma que chegou aos europeus Balcãs. Hassan arregimentava os seus homens, quase sempre jovens, exaltando a fé muçulmana e exigindo uma obediência total, sem reservas. Havia vários graus de evolução dentro desta Ordem, no último grau era transmitido o último segredo: "nada é verdade, tudo é permitido". Diz-se, também, que para dominar os seus seguidores e estimulá-los, proporcionava-lhes orgias, nos magní­ficos jardins do castelo. Embriagando-os com álcool e haschich (haxixe), fazia-lhes crer, coincidência das coincidências, que, se lhe obedecessem, usufruiriam para sempre dos maiores prazeres, no paraí­so celestial. Assim, dominava-os de tal forma, que alguns dos seus homens, os "fidawis", obedeciam-lhe a tal ponto que, ao que se diz, matavam-se a um mero sinal dele, facto que é relatado. Quais terroristas, organizavam-se em hordas violentas e com uma ferocidade inaudita, saqueavam, chacinavam populações, matavam os cristãos que encontrassem, além de xeques árabes. Eram de tal modo cruéis que a actualíssima palavra assassino, lhes é devida, pois provém de hashchashin que quer dizer, "os que estão tomados pelo haxixe". Esta seita só foi, totalmente, exterminada no séc. XIII.
De facto as semelhanças são evidentes com o fenómeno actual da Al-Qaeda e o seu lí­der, Bin Laden. E é esta semelhança que os identifica e nos permite compreender o que aconteceu.
No fundo, o que subjaz a todos estes tremendos acontecimentos não é a questão palestiniana, não é o imperialismo americano, não são as desigualdades norte/sul ou Ocidente/Oriente. A razão de ser, da Al-Qaeda, é um fanatismo suicida que mergulha as suas raízes no mais profundo da alma do povo Árabe. Obstinados e catequizados por um ideal singular, levados pela profunda certeza de que servem algo muito superior, cometem os maiores crimes e atrocidades. Imolam-se julgando-se mártires numa causa que julgam divina. Esta é a questão, tudo o mais são considerações que ajudam a enquadrar os factos. As proporções atingidas nesta catástrofe é que são, verdadeiramente, únicas, mas só o foram, porque actualmente existem meios para provocar uma destruição maciça. Se nunca sucedeu nada de semelhante, anteriormente, foi, única e exclusivamente, por que os meios eram outros. Mas a vontade, o objectivo, o ódio, esse é o mesmo.
E o grande problema é que as próprias nações Árabes reconhecem-se, mutuamente e inconscientemente, contra o histórico inimigo comum, a Cristandade. Éa referência, a alteridade, que os une e que os identifica. Por isso, sentem tanta dificuldade em combater os seus irmãos.
Os séculos passam, a ideia permanece. Intocada."


sábado, novembro 01, 2003

Obrigatório 

A leitura do artigo de João Bénard da Costa no Público de hoje. Não resistimos a uma metacitação: "Aquele que ama a Deus não cura de lágrimas nem de admiração. Esquece o sofrimento no amor e esquece-o tão completamente que nenhum traço da sua dor lhe sobreviveria se o próprio Deus não no-la lembrasse. Porque Deus vê no segredo, conhece a aflição, conta as lágrimas e não esquece nada". . Por curiosidade, só gostariamos de saber quem é esse Amigo de Bénard da Costa???
Neste profundo e eloquente texto fica explicado, à  saciedade, o porquê de um Papa doente, velho e fraco de forças físicas, que não mentais, continuar à frente dos destinos da Igreja Católica.
É reconfortante ler estas palavras quando, mesmo dentro da Igreja tantas são as vozes que se insurgem contra o calvário que representa a atitude inquebrantável do Papa.
A explicação dá-nos o texto citado: a Fé!!! Porém, cremos que o alcance do exemplo é, quiçá, superior. O testemunho que João Paulo II nos oferece, é o de um amor oblativo pela Humanidade. Uma incessante crença no Homem. Por amor a Deus.
Por outro lado, a visão de um homem velho, doente, que sofre, faz-nos esquecer a espuma dos dias. Alerta-nos para todos os outros que, neste momento, sofrem, com fome, com doença, com medo, sem esperança. Porque apesar de ser tabu afirmá-lo, sofre-se... e muito.
Neste exemplo de tenacidade compreendemos que a perfeição física, ou psicológica, são uma mera caracterí­stica do ser humano. Não são o seu objectivo existencial. Por isso, a decrepitude papal, é o instrumento da sua força e do seu ânimo. Paradoxalmente. Como também são os desígnios de Deus.

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