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sábado, fevereiro 28, 2004

A paixão de Mel Gibson 



Não tenho o maior dos apreços pelo actor e realizador Mel Gibson. A imagem de um chauvinista boçal cola ao personagem, quase na perfeição.
Mesmo assim, todo este espanto ácerca do seu último filme, "A Paixão de Cristo", fez chamar a si os holofotes dos media.
Não vi o filme, de resto, pelo que, aqui, não me cabe emitir sobre o mesmo, em concreto, qualquer opinião. Porém, de tudo o que tem sido dito e escrito, há aspectos, no mínimo, duvidosos. Na verdade, Mel Gibson, tributário de uma mundividência religiosa hiper-conservadora (é o que se diz), transpõe no filme, as últimas doze horas da vida de Cristo. Pelos vistos, de uma forma, assaz violenta. Tão violenta que arrasta atrás de si uma horda de figadais contestários, rotulando-o de anti-semita.
Ora, Mel Gibson, realizou e produziu o filme, a suas expensas - 30 milhões de dólares. Pelo que, tanto quanto se saiba não necessitou de qualquer subsídio estatal ou institucional. E assim, desde logo, é plenamente livre de trasportar para o seu filme os conceitos que bem entender.
De facto, como bem refere Richard Corliss, colunista da Time :"Let's start by saying that this is a movie, and that it has the same right to take the Bible literally as other films have to be comically blasphemous. Faith and piety are so often mocked in modern pop culture that Gibson could seem a radical just for approaching the Gospels with a straight face"
Portanto, se o filme representa a verdade de Mel Gibson, a sua visão sobre a Paixão de Cristo, tudo o que se diga esbarrará, e se resumirá a duas meras e simples palavras: liberdade de expressão.

sexta-feira, fevereiro 27, 2004

Romaria 

"É de sonho e de pó
O destino de um só
feito eu perdido em pensamentos sobre o meu cavalo
É de laço e de nó
De gibeira o jiló dessa vida
Cumprida a sol

Sou caipira pira pora Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida
Sou caipira pira pora Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida

O meu pai foi peão, minha mãe solidão
Meus irmãos perderam-se na vida a custa de aventuras
Descasei, joguei, investi, desisti
Se há sorte, eu näo sei, nunca vi

Sou caipira pira pora Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida
Sou caipira pira pora Nossa Senhora de Aparecida
Ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida

Me disseram porém, que eu viesse aqui
Pra pedir de romaria e prece paz nos desaventos
Como eu não sei rezar
Só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar "

Elis Regina

Para ouvir: aqui. Agradecemos o link ao Purprazer.

"É de sonho e de pó" a "vida cumprida ao sol" , arduamente, asperamente! Ansiando alcançar a quimera nunca atingida. Como se, ao ser cumprida, um qualquer feitiço a fizesse desvanecer, fatuamente. Mas esta busca, qual eterno retorno, é o etéreo mote para a vida: que a justifica, que a desafia, que a seduz!!!
Porém, no universo dos infinitos porquês, reduzimo-nos à nossa condição : pó. No mar das inquietações por responder, afundámo-nos no precipício da radicalidade da nossa existência! E é aqui onde tudo se revela. Onde o sonho cede perante o túmulo. Mas, também, onde, paradoxalmente, se restaura a existência. Na fé. Por isso, mesmo quando "não sei rezar", permanece, inexpugnável, essa luz última que nos liberta. Não, necessariamente, uma fé religiosa. Mas uma fé verdadeira em algo, que nos transcende e que nos lê, nos decifra, nos intui. Algo para que bastará "mostrar meu olhar" e assim esventrar as paredes húmidas e altas do medo. Algo que possa cavar sulcos onde irá derramar a essência pura das coisas simples. Como a luz singela que une todos os mal-me-queres do campo, que, já em Fevereiro, insistem em pontear de amarelo, os prados que o Inverno ceifou à fertilidade. Como um fruto agreste que a madurez adamou. Algo que amaina as paixões no profundo enlevo de um afago. Ternamente. E nos devolve, num confiante regresso, à VIDA!!!

sexta-feira, fevereiro 20, 2004

Inédito 



A imagem ilustra como parte de uma estrela foi engolida por um buraco negro. Tal facto, inédito até agora, era meramente sustentado teoricamente, tendo-se confirmado a sua possibilidade. Como de resto é corroborado tanto pela Nasa como pela Agência Espacial Europeia. Para mais...aqui

quinta-feira, fevereiro 19, 2004

Também "Já repararam"? 

JPP, brinda-nos com mais um artigo aberto, frontal e politicamente incorrecto. Uma verdadeira pedrada no charco, com um efeito de um "tsunami". Ligando o fenómeno do Futebol ao "affaire" politicólogo do momento, a virtual candidatura de Santana Lopes, JPP, ilustra bem a desmesura do despudor nacional. Os excessos no Futebol e os coerentes excessos na política .
Porém, se bem que a pedra angular do discurso articulista resvale no sentido de desnudar a edeologia - é com e mesmo - do suposto "candidato presidencial", parece-nos que detentoras, porventura, de maior coragem e alcance, são as afirmações acerca do estado unanimista da nação à volta da espiral anestésica e de auto-comprazimento luso, que é o Euro 2004 e o mundo futebol em geral.
De facto, muito se tem falado das suas propriedades terapêuticas e efeitos benéficos para o país... ! É afirmado, amiúde, que o Futebol é uma boa montra de Portugal lá fora, que, devido a um efeito desmultiplicador, servirá de exemplo e de estímulo à própria sociedade. Na verdade, o estado do futebol português está, indubitavelmente, muito acima do estado do país : temos uma das melhores selecções europeias e mundiais, reconhecidamente. Bem como, nos podemos orgulhar de sermos exportadores de uma fina-flor plêiade de futebolistas. O que, constata-se, é demonstrativo dos elevados níveis de qualidade e exigência postos neste mundo da bola.
Mas, ao mesmo tempo, que o futebol atinge os píncaros, a nação definha debruçada sobre o Déficit e curvada pelo peso da descrença e do pessimismo. Grande paradoxo é este...! Então com o mundo omnipresente do Futebol, pautado pelas regras da qualidade, eficácia e brilhantismo, como é que, nem por osmose, tais predicados não contagiam o país? Não o galvanizam, até?
O que tudo demonstra, convenhamos, é que o Futebol, por si só, nada acrescenta, não é uma mais valia. Ou seja, não é uma força catalisadora e indutora de efeitos benéficos quer ao nível económico ou social. Argumento que, como já afirmamos, é muitas vezes esgrimido. Por exemplo: o insuspeito Miguel Sousa Tavares, na sua última coluna do Público veio elogiar o F. C. do Porto (e, desvaneçam-se as dúvidas, o Glosas é Portista), como uma das forças vivas da região, que o é. Mas qual a utilidade que disso retiramos? Um estandarte para exibir ao discurso macrocéfalo lisboeta?
O Futebol é algo de muito positivo. Mas não se lhe pode pedir mais do que aquilo que é e representa: um jogo, um mero e puro desafio dentro das quatro linhas. Com todo o gozo que dá, ver ganhar a nossa equipa. O que, diga-se, já não é pouco: ser a morfina da nação.
De todo o modo, a conclusão impõe-se, ela própria. Por muito que o mundo da bola ocupe um espaço privilegiado quer na agenda mediática, quer na eminente agenda pessoal de cada cidadão - também por arrastamento - o certo é que, do ponto de vista substancial, esse seu espaço, não encontra eco. Donde, não será temerário afirmar que, os relvados destes "homéricos" estadios, são, naturalmente, estéreis.

Quase 

Um pouco mais de sol - eu era brasa,
Um pouco mais de azul - eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador de espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho - ó dor! - quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim - quase a expansão...
Mas na minh'alma tude se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
- Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... -
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol - vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...
Um pouco mais de sol - e fora brasa,
Um pouco mais de azul - e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Mário de Sá Carneiro


Muppets/Disney 




No WP, vem a notícia de que a Disney se prepara para comprar o famosos Marretas de Jim Henson. Desde o Cocas à "voluptuosa" Miss Piggy, todos irão pertencer ao universo Disney. O WP refere que "Disney plans to make new television shows, video games, movies and other products with the existing characters as well as develop new characters in the coming years". Vamos assistir ao merchandising massivo dos famosos Marretas. Palavras para quê : "There's no business like...!!!

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Novos Links 

Muitos já cá deviam estar... pela pertinência, pela memória, pelo "proselitismo", pela graça!!! Adicionamos A Praia, o Adufe, o Barnabé, Bomba Inteligente, Causa Liberal, De Direita, Dicionário do Diabo, Homem a Dias, Jaquinzinhos e Rua da Judiaria.
Uma referência especial, para um blog, que nos foi sugerido pelo nosso amigo, Fernando, o Columbiana, pelo apurado e aturado bom gosto...todos os blogs deviam ser assim!!!

Brit Awards 



Os Darkness foram os grandes vencedores, arrebatando o prémio de melhor grupo britânico, melhor albúm e melhor grupo de Rock. Melhor cantora britência e melhor single para Dido. Melhor cantor masculino britânico para Daniel Bendingfield. Na categoria internacional os prémios de melhor cantor foram para Beyonce e Justin Timberlake. Prémio carreira para os Duran Duran. Aqui.

terça-feira, fevereiro 17, 2004

Ainda nas estrelas... 



Foi descoberta uma anã branca - estrela extinta - cujo núcleo se transformou em carbono puro... diamante!!! Para os interessados informa-se que se encontra a 50 anos luz da Terra - coisa pouca - na constelação de Centauro, portanto na nossa galáxia. O maior brilhante do mundo - o Estrela de África - que pertence às Jóias da Coroa Britânica, pesa 530 carates, e foi retirado de um diamante em bruto, o maior à superfície da Terra até agora encontrado, que tinha o peso de 3.100 carates. Porém, o raro achado, pesa o modesto número de um 1 seguido de 34 zeros de carates. Travis Metcalfe, que liderou a equipa de astrofísicos responsável pela descoberta, refere que o Sol daqui a 5.000.000 de anos também se extinguirá, o que levará, passados outros 2.000.000 de anos ao surgimento de um megagiga diamante em bruto. Foi baptizado de Lucy, como tributo à famosa música dos Beatles : "Lucy in the Sky with Diamonds". O pequeno pormenor é que a música dos rapazes de Liverpool não se referia a diamantes, longe disso, pois das suas iniciais resulta, isso sim, LSD - algo, igualmente, alucinogéneo!!!


segunda-feira, fevereiro 16, 2004

Pó das estrelas 



Foi descoberta a mais distante galáxia, já identificada. Situada a mais de 13 biliões de anos luz da Terra. E está a ser vista, como era, pouco depois da ocorrência do Big Bang, "somente" 750 milhões de anos. Tudo graças ao míope Hubble. Aqui.

Bafta- British Academy Film Awards 



Surpresa com o "esquecimento" de Cold Mountain. O filme de Sophia Copola, ganha 3 prémios, e sai como o ganhador, já que Peter Jackson ganha o melhor filme mas os outros 4 prémios referem-se, dois deles, às categorias técnicas. Melhor filme : "Lord of the rings"; Melhor actor e melhor actriz, Bill Murray e Sacarlett Johanssen, em "Lost in translation", Melhor actor e actriz secundários, Bill Nihgy pelo seu desempenho em "Love Actually" e René Zellwegger em "Cold Mountain". Para ver todos os prémios e nomeados, aqui.

Jangada de pedra - IV 

José Loureiro dos Santos, discorre hoje, pelas páginas do Público, um artigo de largo alcance. Faz uma análise histórica do passado Ibérico, desde os Romanos, até aos dias hoje, rotulando a solução hodierna dos dois estados peninsulares, na lapidar e expressiva designação do "Modelo de Tordesilhas". Nem mais.
O cerne da sua análise radica na questão da sobrevivência nacional num mundo multipolar e globalizado. E digo nacional, porque essa sobrevivência como aí é referido, não passará, necessariamente, pela manutenção da estrutura estadual clássica.
Ora, não posso deixar de constatar que, a sua pertinente análise, vem na peugada, do incisivo e sagaz artigo de Paulo Rangel no último O Independente: Iberolux. Onde nos remete para o exemplo do Benelux, como modelo paradigmático de uma convivência profícua entre nações, duas delas agrilhoadas a uma só estrutura estadual : os valões e os flamengos. Sobretudo, como sabiamente alerta o constitucionalista, quando o modelo estadual clássico se encontra numa profunda crise, fruto do universo global que nos submergiu e da pulverização dos centros de poder.
De facto, Madrid, é capital, não por fruto de um crescimento natural do ascendente da cidade, mas por "decreto". No séc. XVI, até 1556, a capital era Toledo. Porém, Filipe II, achou por bem a criação de uma nova capital baseada na “artificialidade geométrica”. E tal facto percebe-se, fruto de um esforço centralizador que então já se vislumbrava, alfobre até do que viria a materializar-se no surgimento do monarca como déspota esclarecido e do concomitante conceito do Estado moderno, com os contornos que hoje lhe achamos. Aqui Loureiro dos Santos poderia e deveria ir mais longe. O catalisador desta nova "iberividência", é, como assertadamente diagnostica, o "desaparecimento das fronteiras por via da União Europeia". Daí a perspicácia da busca do exemplo do Benelux, por parte de Paulo Rangel. Pois, na verdade, foi aí que surgiu a centelha germinativa da pretérita C.E.E., com a Comunidade Económica do Carvão e do Aço. Sublinhe-se, aqui, a similitude genética com o nosso circunstancialismo actual, dada a fundação do Mercado Ibérico de Electricidade.
O visionário "Iberolux", é uma hipótese real e bem gizada. Como o confirmam as pistas concretas avançadas pelo estratego Loureiro dos Santos.
Não se julgue porém, que arrepiamos caminho, ou que cedemos nas posições de princípio. Longe disso. O "Iberolux", potenciado que o é, por uma plena integração Europeia, visa defender os interesses nacionais. E, em ultima ratio, a identidade nacional.
Assim se obsta à força centrípeta "madrileña". Não se limitando a nossa soberania em benefício de nenhum outro estado, mas depositam-se os nosso centros de decisão, no quadro da União Europeia. Por isso, uma integração mais profunda, ao contrário, do que muitas vezes, é propalado, não é sinónimo de uma diluição deliquescente. A uma maior integração, corresponderão direitos e deveres, consagrados formalmente (Constituição Europeia). O que acarretará, fatalmente, uma maior protecção. Por muito que sejam os inconvenientes.
Por outro lado, a própria Europa, é, em si mesma, um conceito imemorial. Vem da Antiguidade e Mitologia Clássica. Não foi Jean Monet o seu criador, mas, porventura o seu lúcido intérprete no séc. XX. Como outros o foram nas eras passadas. Carlos Magno, e o Sacrossanto Império - estendendo-se pela França e Alemanha. Calos V, Imperador que foi da Espanha, parte de Itália, Alemanha e actual Holanda. Napoleão Bonaparte, que em nome de uma Revolução que não era sua, torpemente, foi semeando destruição e cargos familiares. Ainda no século transacto, Hitler, destilando iniquidade sonhou crucificar soez e suasticamente um continente. Muitas foram, pois, ao longo da História, as tentativas de unificação do velho continente.
Contudo forma, moralmente edificante, democrática, voluntária e solidária como o projecto de União que hoje abraçamos, não se acha.
Donde, e dada a nossa contingência de um país meridional, de charneira, no demonstrativo epíteto de António Barreto, em que somos o mais pobre dos ricos, o mais ocidental dos ocidentais, o mais ao sul dos do norte, o mais Atlântico dos Europeus, seguramente, a visão ibérica, no sentido do Iberolux, é uma mais valia, e um passaporte de autêntica independência, da Lusa nação, para os tempos e para as gerações que se avizinham.

O fim não é o fim 

Sexta-feira, tive o grato gosto de assitir à presentação do segundo livro de poesia de um "velho" amigo dos bancos da escola, Pedro Ludgero. "O fim não é o fim" é o título.
Li-o já, com a única limitação que o autor nos impõe: a máxima liberdade!!!
Não percebi o livro como um conjunto disperso de poemas. Pelo contrário, mas como um todo uno. Cada poema existe na reciprocidade dos demais e na sua relação com eles.
Aliás, a intenção resulta, até, da forma como o poeta brinca com as palavras dos versos. Colhendo na sua literalidade o sentido que depois reaparece, renovado, no seu uso fonético como em: "pressenti um trapo de vidro tinto".
Porém, não se julgue que somos libertados através de uma fuga para universos oníricos... longe disso. Perpassa-nos um horizonte de busca, de procura... de inquietação. Pois somos convidados a embarcar num surreal comboio que veio do nada e vai para parte nenhuma, ou, como "o fim não é o fim", vai para todo o lado. E nesta viagem de perplexidades, vamos aportando em vários "apeadeiros" onde se reconhecem as influências da música, sempre presente no ritmo sincopado das estrofes, do cinema, e de uma agora tão rara cultura clássica.
Como prémio aprendemos melhor a ouvir: "as linhas que unem as estrelas".
Aqui fica um bocadinho dessa linha finamente tecida:

"Texto com pedaço de jornal"

"depois do fim do texto
depois de depois do fim do texto
há um poema
E um combate ainda

(o autor saindo na última extensão)

E emudecemos
pois era a única direcção
pensável ou impensável
Emudecemos muito
E passámos pela palavra política
que disse
tan pobre me estoy quedando
que ya ni siquiera estoy
conmigo, ni sé si voy
conmigo a solas viajando

E encontrámos a palavra económica
que rondava a palavra política
E sentimos um contexto maior
corrompido por um pretexto menor
E até a esperança era esperança
E o tempo do relógio que pára
também
"É evidente que não é possível agradar
a israelitas e palestinianos,
a situação agrava-se perante a impotência
diplomática e burocrática
da comunidade internacional,
que de comum tem apenas o facto de"
depois do fim do texto humano
depois de depois de depois
não há poema
mas há um combate
ainda"

domingo, fevereiro 15, 2004

Diletantismo 



Santana Lopes, na sua entrvista ao Expresso, já, amplamente glosada pela blogosfera, veja-se o que diz CAA, ou o Cataláxia, veio continuar o seu exercício de auto justificação e, sobretudo, de autoconvencimento.
Desde logo, apresenta-nos uma nova tese: a de que não há lugares cativos, podendo o próprio Durão Barroso, ser candidato presidencial. Na verdade, o Glosas não tem memória curta, e num seu "post" de 23 de Dezembro alertava para a também peregrina ideia santanista da putativa existência de uma dupla candidatura presidencial de Direita. Pasme-se, pois, que num tão breve espaço de tempo, o candidato a candidato, tenha mudado, radical e incoerentemente de posição. Resulta evidente que Santana pugne, agora, pela ideia do candidato consensual. É, somente, mais um ínvio e insidioso modus operandi, para tentar aniquilar a eventual candidatura do arqui-rival, Cavaco. Lançando, à guisa de uma evidente constatação, o labéu de "destabilizador da maioria" ao pseudo-candidato. Donde de uma aceitação, sem reservas, de uma duplíce candidatura, pugna, agora, por uma só.
Mas a incoerência não se fica por aqui. De peito aberto, o nosso homem, assume-se livremente, como candidato...só que, por outro lado afirma que ainda não se decidiu... "é como na Figueira", diz. Mas acaso a dúvida é Lisboa ? Nem por sombras. Não se vislumbra um esgar de preocupação com a edilidade alfacinha. A dúvida é uma: Cavaco!!! Mas omite-a. Só que se denuncia ao afirmar que se Cavaco avançar, suster-se-á.
E é aqui que reside o ponto. E onde nunca poderíamos aceitar aquilo em que muito boa gente acredita: no invólucro do "enfant terrible". Ao contrário do que se anda por aí a dizer - por exemplo no Vilacondense - a proto-candidatura de Santana não é como a de Sampaio. Antes fosse. Não surge de um acto isolado e instintivo. Dum relance de temerária coragem política. Emerge de avanços e recuos, calendarizados, e dados à estampa em intervenções tíbias e timoratas.
Aliás, diagnostica-se em Santana, um complexo tão velho como o mundo: ao insurgir-se contra Cavaco, ressalva sempre que nunca se candidatará caso o ex-primeiro ministro o declare e faça. Mas porquê? Porque não assume a sua candidatura mesmo contra Cavavo? Tal facto não se compreende, tal é o rol de inconveniências políticas que lhe atribui Santana. Em consciência, deveria, desde já, apresentar-se ao dispor para ser presidente. Quanto mais não fosse a bem da maioria e, por consequência, do país - a acreditar nas sua palavras. Mas acerca disto, somente refere, que não faz sentido competir com ele...! Não se percebe esta "auto-castração". Mas surpreende-se o sintoma que o achaca. Na verdade, Santana pensa e sente o mesmo que todos. Cavaco Silva, é uma mais valia onde quer que esteja, e é realmente justíssimo que seja Presidente de todos os Portugueses, não só por aquilo que fez, mas pela sua envergadura, pela credibilidade que, até em termos internacionais, traz ao nosso país, tão carenciado de uma referência inspiradora. É, pois, Santana, ele próprio, que com o seu diletantismo, a sua indecisão, a sua reverência a Cavaco, o legitima, o entroniza, até. É este reconhecimento tutelar de Cavaco que denuncia da parte de Santana, um "freudiano" complexo de Édipo. Evidenciando, claro está, um saudável político ainda em plena fase de afirmação.

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

Kant ou a contingência do conhecimento 

São passados duzentos anos sobre a morte de Imannuel Kant. Não poderei deixar de recordar que, de entre todos os pensadores, é talvez, aquele que me fez descobrir o sentido do mundo - ou, perdoe-se a soberba, desconhecê-lo menos um pouco (se tal for possível). No fundo, redimensionar as permissas sobre que julgamos a existência.
Efectivamente, Kant, na sua obra, Crítica da Razão Pura, explica como é possível o conhecimento dos factos, e até onde é possível o conhecimento da realidade. Ou seja, crê que a apreensão do real está sujeita a determindas contingências. Concretizando: as impressões sensíveis, provindas da realidade, através dos nossos sentidos, são escrutinadas por uma estrutura endógena, interna, a priori que o sujeito possui, e que são as formas espaço-tempo e as categorias ou conceitos puros. Donde, o conhecimento só é possível pela aplicação dessas formas e categorias às impressões da realidade. Essa relação simbiótica e dialéctica (não no puro sentido Kantiano, mas Hegeliano) é que possibilita o conhecimento. Foi esta "descoberta", da sua precariedade, a que se juntou, depois, o conceito da Verdade relativa de Bachelard, que foi, para mim, altamente reveladora. Mais, indutora da sempre presente consciência da impossibilidade do absoluto.
Aliás, em certo sentido, Kant, apresenta uma versão moderna da Alegoria da Caverna, ou seja, o conhecimento do real não é possível na sua radicalidade. O que apreendemos é resultado de um processo cujo filtro são os nossos sentidos e as nossas estruturas de cognoscibilidade da existência fáctica.
Esta evidência, que mais parece uma redundância agora, é magistralmente demonstrada, figurativamente, por um dos maiores mestres do surrealismo, René Magritte na sua obra "Ceci nést pas une pipe", de 1926.



De facto, o paradigmático "cachimbo" de Magritte, não é um cachimbo, pela pura e simples razão de que nós, como seres limitados que somos, pelas nossas contingências, nunca poderemos absorver o real como de facto ele é. Será sempre percepcionado como, de facto, ele nos parece que seja.


terça-feira, fevereiro 10, 2004

Ricardo-coração-de-melão  

Ricardo Sá Fernandes, no uso pleno das suas faculdades - presume-se - veio declarar que pretende levantar o sigilo profissional. Alquebrado pela emoção, quase lhe vislumbramos uma lágrima no canto do olho. Tudo por causa do seu constituinte, Carlos Cruz que está a ser julgado na praça pública, diz ele.
Ironias à parte, a posição de RSF é insustentável.
Na realidade, RSF assume uma defesa que não é compatível com o seu exercício de funções. Desde logo, coloca a questão onde nunca a poderia colocar, viciando o seu, e o nosso, raciocínio: a defesa, em público, do seu cliente. Ora, para este tipo de defesa não se recorre a um advogado mas, por exemplo, a um amigo!!!
Por outro lado, pretende contornar o pequeno óbice da existência de segredo de justiça, com o levantamento do sigilo profissional. E, assim, criar uma aparente legitimidade de meios, puramente virtual.
Coloca, como pedra angular do argumento justificativo da sua posição, a calúnia de que o seu cliente está a ser vítima. Ora, as instâncias próprias para acautelar este tipo de factos, são precisamente os Tribunais.
Dramatiza o discurso, como se estivessemos a falar de algo com eminente interesse público. Quando o que existe, no máximo, é um caso particular e do foro privado, com manifesta curiosidade e exposição pública. (O interesse público do caso existe, mas é o foro criminal dos factos de que o arguido Carlos Cruz é acusado, mas este não é o enfoque que é relevado)
O que, se constata, é que se pretende afastar a sede do julgamento de Carlos Cruz para o palco mediático, onde este é mestre. Parece que se pretende evitar que a devida instância, actue. Aliás, o recato, que a prudência aconselharia nestes casos, é substuído por uma vitimização populista e delicodoce. Tudo com o manifesto propósito de consternar a Justiça. Ou seja, pressionar o poder judicial, através dos órgãos de comunicação social.
Se a Ordem dos Advogados aceder ao pedido, exclusivo, de RSF, tal facto será deveras preocupante. Exporá uma pústula de difícil tratamento, pois oporá a causídica corporação contra a das Magistraturas. Surtirá um efeito de descredibilização das instituições judiciárias, uma vez que, oficiosamente, se anui à exposição pública de factos que constam de um processo judicial, ainda por julgar. E será interpretado como um beneplácito - tal o seu carácter de absoluta excepção - da Ordem à ínvia actuação de RSF. Dando cobertura ao tipo de actuação adoptada. O que, para além do caso concreto, terá um alcance exemplar altamente pernicioso, tal o efeito de precedente que criará.

30 milhões de Euros 

Parece um argumento de filme, mas não é. É a mais pura realidade. Tudo por dinheiro.

As Rosas de Fernando - II 

Em resposta ao pertinente comentário do meu amigo Fernando - não, não é o Rosas - sobre a "irresponsabilidade" de Mário Soares na Descolonização impõe-se um pequeno esclarecimento.
Portugal foi, curiosamente, o primeiro e o último Império Colonial. Este facto - de Portugal manter as sua colónias africanas - era, ao tempo, muito mal visto pela comunidade internacional. Daí que quer a URSS, quer os EUA, "invejassem" esse recurso extraordinário da Lusa nação - só assim se percebendo o significado do mítico rótulo do "orgulhosamente sós". Ora, os obreiros da revolução dos cravos - Mário Soares incluído- na senda do ideário revolucionário resolveram, coerentemente, conceder a autodeterminação às Províncias Ultramarinas - como então se chamavam por uma questão, puramente, politicamente correcta, isto é, varrendo a expressão "Colónias" tão pejorativa e capitalisticamente conotada. Aliás, as próprias Nações Unidas alertavam o antigo regime para este facto. Portugal, ao tempo, não tinha força suficiente para, sozinho, e saído que estava de uma revolução, manter as suas colónias. Era um imperativo, até, para a aceitação pela comunidade internacional do novo regime. E isto é um facto incontornável.
Porém, o modus como foi realizada, deixa-nos grandes perplexidades. Terá sido fruto de uma precipitação revolucionária? Terá, por acaso, sido fruto de oportunismos políticos espúrios? Numa palavra, será que houve irresponsabilidade dolosa ou não? Na verdade, a maneira como as colónias foram entregues, de mão beijada, às forças comunistas - outro facto inelutável - levantam a suspeita de que nada foi inocente. Não houve preocupação, sequer, em negociar as independências com outras forças políticas. E a consequência está em que deixamos países dilacerados por guerras civis devastadoras e sangrentas. Fardo que a consciência nacional não poderá, jamais, escamotear. E, além de tudo, deixando milhares de portugueses sem nada, não acautelando os seus interesses: e isso foi, igualmente, criminoso.
Quanto a responsabilidades pessoais... considero que se impõe uma análise profunda, séria, objectiva e serena sobre o tema. Sobretudo descomplexada das contingências históricas. O que, pressuponho, que dado as feridas serem muito recentes, será difícil. Contudo, arrisco que, pelo menos, se não houve uma intencionalidade directa, houve uma negligência grosseira.
Donde... Mário Soares: carrasco ou cordeiro? É uma questão em aberto... porém, a História, seguramente, o julgará!!!

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Bucólica 




A vida é feita de nadas:
De grandes serras paradas
À espera de movimento;
De searas onduladas
Pelo vento;

De casas de moradia
Caídas e com sinais
De ninhos que outrora havia
Nos beirais;

De poeira;
De sombra de uma figueira;
De ver esta maravilha:
Meu Pai a erguer uma videira
Como uma mãe que faz a trança à filha.

Miguel Torga, S. Martinho de Anta, 30 de Abril de 1937

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

As Rosas de Fernando 

No Público, Fernando Rosas, lança pétalas de insídia e cicuta. Oferece, pelo cálice da sua verdade, a perfídia que desmonta, reconstrói e se arroga dos factos históricos. Na velha tradição da esquerda nacional, deturpa os acontecimentos, interpretando-os de molde a reclamar-se depositário dos valores supremos de Abril. Tudo fruto da "fraqueza caviar" desta "nouvelle gauche", reciclada que foi, pela inexorabilidade de uma Globalização capitalista e depredadora.
Avivemos o que certas memórias persistem em se olvidar:
27 de Outubro de 1974 :O Governo anuncia as Campanhas de Dinamização Cultural, empreendidas pela 5ª Divisão do EMGFA com o objectivo de "cumprir integralmente o programa do MFA e colocar as Forças Armadas ao serviço de um projecto de desenvolvimento do Povo Português". Ou seja, lavagens ao cérebro. Nas escolas as crianças são obrigadas a entoar a "Grândola Vila Morena". Era uma operação de formatação ideológica sem espaço para a Liberdade.
2 de Fevereiro de 1975 :Trabalhadores rurais ocupam terras abandonadas na herdade do Picote, em Montemor-o-Novo. Início da Reforma Agrária. Apesar de muitas injustiças sociais existentes, os métodos de correcção foram totalitários, traumatizantes, inaceitáveis, deixando chagas tão profundas na sociedade que ainda não sararam.
22 de Fevereiro: o MFA reforça os seus poderes políticos chamando a si um direito de veto relativo a decisões políticas fundamentais. Ora, aqui está a grandeza de Abril, o totalitarismo na tomada de decisões. O Povo é quem menos ordena. O que acarretou que em 11 de Março, as divisões profundas entre oficiais do MFA levassem a ala spinolista a tentar um golpe de estado. Terminando com a fuga para Espanha do General Spínola e outros oficiais. Conclusão: reforço da capacidade de intervenção do COPCON chefiado por Otelo Saraiva de Carvalho. O caminho para a criação da sociedade sem classes está aberto.

A cereja em cima do bolo está prestes a ser colocada : 12 de Março, são extintos a Junta de Salvação Nacional e o Conselho de Estado e em sua substituição é criado o Conselho da Revolução. O Governo dá início à execução de um grande plano de nacionalizações (Banca, Seguros, Transportes etc...). A 26 de Março: tomada de Posse do IV Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves. O Gonçalvismo, esse "ícone maior" de Abril, trouxe consigo o medo e a opressão. Vivem-se dias de profunda apreensão e a situação nacional é acompanhada lá fora, atentamente. Seríamos, para bem dos soviéticos, a Cuba da Europa Ocidental, um bastião comunista avançado e estrategicamente posicionado.
11 de Abril : plataforma de acordo MFA/Partidos assinada por CDS, FSP, MDP, PCP,PPD, PS. O acordo visava o reconhecimento, por parte dos partidos, da necessidade de se manter a influência do MFA na vida política do país por um período de transição de três a cinco anos o qual terminaria por intermédio de uma revisão constitucional. Que Liberdade restava? São estes os valores com que Rosas nos quer inebriar, hoje?
25 de Abril :eleições para a Assembleia Constituinte com uma taxa de participação de 91,7%. Resultados dos Partidos com representação parlamentar: PS 37,9%; PPD 26,4%; PCP 12,5%; CDS 7,6%; MDP 4,1%; UDP 0,7%. O Povo faz-se ouvir.
25 de Maio, ocupação pelos trabalhadores das instalações da Rádio Renascença, propriedade do Episcopado. Será este um pequeno pormenor no catálogo das violações dos Direitos, Liberdades e Garantias perpetrados pelo pseudo-revolucionários? Queria-se, isso, sim era esventrar a Direita, o Centro, a própria Esquerda, os verdadeiros arautos da Democracia, dos valores. Numa palavra, quem se opusesse a uma sociedade Justa, Solidária e Livre. Tudo o que não fosse da Extrema Esquerda, tinha a suspeita do conluio com putativas forças contra-revolucionárias. Daí que em Julho, reagindo ao curso dos acontecimentos e à situação criada no jornal República o Partido Socialista desencadeia manifestações de massas - a maior das quais foi a da Fonte Luminosa, abandonando o Governo em 16 de Julho. O Partido Popular Democrático - PPD - segue-lhe o exemplo. Iniciam-se as diligências para a formação de novo Governo. O que se pretende esconder agora, foi um orgulho há 30 anos: MFA divulga o Documento "Aliança POVO/MFA, para a construção da sociedade socialista em Portugal. Quem foi que pediu este tipo de sociedade?
13 de Julho, o Povo, indignado, começa a reagir: assalto à sede do PCP em Rio Maior. Têm aqui início uma série de acções violentas contra as sedes de partidos e organizações políticas de esquerda, registadas por todo o país mas com maior intensidade no Norte e Centro. Esta onda de violência conotada, ao tempo, com as forças conservadoras ficou conhecida pelo Verão Quente. Porém, em 30 de Julho é criado no Conselho da Revolução o Triunvirato que passa a orientá-lo. Constituem-no Vasco Gonçalves, Costa Gomes e Otelo. e viva a Liberdade...!
8 de Agosto, tomada de posse do V Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves. 12 de Agosto : aparecimento do "Documento do COPCON", em contraposição ao "Documento dos Nove", e reforçando a ideia de ser atribuído um papel político relevante às Assembleias Populares (democracia de base). Após a queda de Vasco Gonçalves, há a manifestação dos SUV no Porto, numa tentativa de criar no seio das Forças Armadas uma zona de influência adepta do Poder Popular de Base como advogavam alguns partidos da chamada esquerda revolucionária. 21 e 22 de Setembro: agudiza-se a luta política nas ruas: manifestação dos Deficientes das Forças Armadas com ocupação de portagens de acesso a Lisboa e tentativa de sequestro do Governo. Prosseguem as nacionalizações: SETENAVE e Estaleiros de Viana do Castelo. 15 de Outubro, o Governo manda selar as instalações da Rádio Renascença, ocupada desde Maio pelos trabalhadores. Mas a ocupação mantém-se. 7 de Novembro, por ordem do Governo, o recém criado AMI, faz explodir os emissores da Rádio Renascença. Confrontos violentos na região de Rio Maior entre representantes das UCP's e Cooperativas Agrícolas da Zona de Intervenção da Reforma Agrária (ligadas ao sector do trabalhadores rurais) e representantes da CAP - Confederação de Agricultores Portugueses, instituição ligada aos interesses dos proprietários agrícolas. 12 de Novembro, manifestação de trabalhadores da construção civil cerca o Palácio de S.Bento sequestrando os deputados. 15 de Novembro, juramento de bandeira no RALIS - os soldados quebram as normas militares que regulamentam os juramentos de bandeira e fazem-no de punho fechado. Manhã de 25 de Novembro, na sequência de uma decisão do General Morais da Silva, CEMFA, que dias antes tinha mandado passar à disponibilidade cerca de 1000 camaradas de armas de Tancos, paraquedistas da Base Escola de Tancos ocupam o Comando da Região Aérea de Monsanto e seis bases aéreas. Detêm o general Pinho Freire e exigem a demissão de Morais da Silva. Este acto é considerado pelos militares ligados ao Grupo dos Nove como o indício de que poderia estar em preparação um golpe de estado vindo de sectores mais radicais, da esquerda. Esses militares apoiados pelos partidos políticos moderados PS e PPD, depois do Presidente da República, General Francisco da Costa Gomes ter obtido por parte do PCP a confirmação de que não convocaria os seus militantes e apoiantes para qualquer acção de rua, decidem então intervir militarmente para controlar inequivocamente o destino político do país. Assim na tarde de 25 de Novembro elementos do Regimento de Comandos da Amadora cercam o Comando da Região Aérea de Monsanto. À noite o Presidente da República decreta o Estado de Sítio na Região de Lisboa. Militares afectos ao governo, da linha do Grupo dos Nove, controlam a situação.
Prisão dos militares revoltosos que tinham ocupado a Base de Monsanto. A 26 de Novembro os Comandos da Amadora atacam o Regimento da Polícia Militar, unidade militar tida como próxima das forças políticas de esquerda revolucionária. Após a rendição da PM, há vítimas mortais de ambos os lados. Prisões dos militares revoltosos.. Em 27 de Novembro
os Generais Carlos Fabião e Otelo Saraiva de Carvalho são destituídos, respectivamente, dos cargos de Chefe de Estado Maior do Exército e de Comandante do COPCON. O General António Ramalho Eanes é o novo Chefe de Estado Maior do Exército. Por decisão do Conselho de Ministros a Rádio Renascença é devolvida à Igreja Católica. Em 28 de Novembro
O VI Governo Provisório retoma funções. O Conselho de Ministros promete o direito de reserva aos donos de terras expropriadas.
Em traços muito gerais esta é a cronologia da revolução. Para que não se escamoteiem os factos que a fizeram.
São, pois, estes os valores que a Direita agora no poder vem por em causa ? São estes os valores que quem está agora no Governo, pretende arredar ? Se são, parabéns. Finalmente acabaram-se os traumas. Agora, vive-se em franca Liberdade. Não há que temer os rótulos e anátemas do fascismo e do capitalismo.
É que, de facto, desde o 25 de Abril, a Extrema Esquerda foi sempre tolerada, aceite até, como "força democrática". E, a Extrema Direita considerada uma escória inqualificável de gente opressora e reaccionária. Ora, qualquer extremismo, seja ele da Direita ou da Esquerda merece o mesmo tratamento: atenta indiferença. A questão está em que a Extrema Esquerda, fruto da inelutável influência do PCP, foi sempre "aceite" e impôs-se às forças realmente democráticas. Os valores de Abril, os verdadeiros, não são nem de Esquerda nem de Direita. São de todos nós, cidadãos livres e responsáveis que ansiamos uma sociedade de bem estar, autodeterminada e solidária. A apropriação deste ideário de Abril pelas forças da Extrema Esquerda é uma manobra de distracção para legitimarem, com candura, os seus ímpetos naturais e conscientes de totalitarismo. Um invólucro atractivo. Para lavarem a sua imagem dos actos que agora escondem.
Por isso quando Rosas afirma:"Oxalá a convocatória ao debate cívico deste 30.º aniversário do 25 de Abril possa contribuir para desmontar a pressão para o esvaziamento ritual da efeméride ou até para a sua negação, implícitos nos propósitos ideológicos das direitas no poder. Também com esse debate, e trinta anos depois, estaremos discutir os destinos da democracia portuguesa"; nós concluímos : tais considerações só demonstram, no mínimo, falta de coerência e verdade intelectual. A manipulação da mensagem é abusiva e deturpadora. Demonstrando a incapacidade absoluta e tíbia de adaptação aos novos tempos, sem complexos de Direita ou de Esquerda, mas em que cada um se assume pelo seu valor, pelo seu ideal, e porque não, pela sua memória. Sem dramatizações.

Repto 

Correspondendo ao desafio do Bloguitica, aqui se divulga a pertinente sugestão :
"Lanço um desafio aos leitores do Bloguítica que estejam interessados em participar:
Num texto entre 50 e 125 palavras, deverão descrever como é que acham que será a blogosfera portuguesa daqui a um ano.
Todos os artigos que receber (bloguitica@hotmail.com) serão publicados no Bloguítica na próxima segunda-feira. A identidade do autor (e o nome do blogue se tiver um) será revelada ou não, dependendo da vontade do mesmo.
Será certamente interessante ler os textos para a semana que vem e, sobretudo, reler em Fevereiro de 2005…
"

Boas Vindas 

Ao purovinagre : o novo blog, Vilacondense, concerteza!!! Atento, actual, opinativo.

terça-feira, fevereiro 03, 2004

Jangada de Pedra? - III 



"Fantasmas e Fantasias Imperiais no Imaginário Português Contemporâneo", Campo das Letras, é, porventura, um livro que, para o nosso tempo, tem o efeito da "Pedra de Roseta" - decifrador - e os seus interventores, verdadeiros "Champollions". Dão o seu contributo Eduardo Lourenço, António Sousa Ribeiro, Francisco Bettencourt, David Brookshaw, Luís de Sousa Rebelo, entre outros, cobrindo assim diversas áreas do saber. Uma referência vem no suplemento "Actual" do Expresso - não é essa a razão deste "post".
Através de uma série de pertinentes ensaios, se problematiza o estado da Lusa nação. Reflexões sobre o imaginário colectivo português, após o regresso ao nosso espaço físico original, findo que se acha, agora, o Império. Um precioso instrumento para nos ajudar a decifrar esta época de "Encoberto" em que nos achamos, possibilitando uma mais cabal auto-gnose.

Reconhecimento 

Às generosas e simpáticas palavras do Lápis de Cor. A bondade imerecida das suas afirmações esbarra, desde logo, no reconhecimento, pelo Glosas - entre muitos outros - do valor, da novidade, do desassombro, da Liberdade que se respira no Lápis de Cor. Obrigado.

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

Jangada de Pedra?- II 

A propósito de "Identidades" convirá esclarecer o que se entende pelas mesmas. Não é nada serôdio, saudosista, ou mera quimera, como nos parecem sugerir os "posts" do Cataláxia. De facto, a "identidade" a que nos referimos é algo que está para além de... é um arquétipo. Que informa e conforma o ser português. Inconscientemente. Não se define, não se realiza...intui-se! Simplesmente.
Não colhem, por isso, os argumentos de que o cidadão comum, pouco se interessa por estes temas, cuidando mais da sua vidinha do que da sua ideossincracia. E não colhem porque o plano em que esta questão se coloca ultrapassa esta contingência. José Mattoso, a propósito, refere uma anedota que corria no tempo de D. Luís. El-rei, navegando pela nossa costa no seu iate, cruzou-se com um barco de pescadores da Póvoa de Varzim - o exemplo não é bairrista, juro - e perguntou-lhes qual a sua nacionalidade. Ao que responderam que não eram portugueses mas da Póvoa de Varzim...! Ora, a este propósito - identidade nacional - e pronunciando-se sobre este caso anedótico em concreto, o maior intérprete contemporâneo da alma lusitana, Eduardo Lourenço, disse: " Marx seria de bom conselho nestas circunstâncias. A auto-consciência não é a verdade do estatuto objectivo dos homens. Não é o pescador ou seja quem for que define subjectivamente a sua identidade efectiva. É a língua que fala nele, a rede simbólica de que está prisioneiro, as leis que se lhe impõem mesmo se as ignora, os imperativos que o condicionam como ser social. Não é por ser de Póvoa do Varzim que os impostos não lhe caem em cima ou não será enviado para uma guerra que a título pessoal nem lhe diz respeito, etc. A perspectiva sociológica mais comum em relação à questão da identidade é cega porque o indivíduo não é o seu sujeito. E se efectivamente é aos estratos mais conscientes de uma colectividade que o destino de um povo, como tal, se define com mais clareza, não significa que as suas camadas mais «incultas» não partilhem - mesmo passivamente - desse mesmo imaginário."

domingo, fevereiro 01, 2004

Leilão de interesse público 


Amadeo Modigliani, Retrato de Jeanne Heburténe


Paul Cézanne, Grande "bouquet" de flores

Na Christie's de Londres, dias 2, 3 e 4 de Fevereiro, grandes mestres do Impressionismo, Cubismo, Surrealismo ou Expressionismo, como Renoir, Degas, Cézanne, Modigliani, Braque, Matisse, Picasso, Magritte, Miró, ou Dali, entre outros.

Cavaco Silva 


Regista-se com agrado a sondagem sobre as Presidenciais, no Público. É bom constatar que ainda existe memória. Reconhecimento.
De facto, e sendo nós um país onde o mérito não é condição de sucesso, seria muito preocupante, que qualquer outro candidato de Direita pudesse levar a melhor a Cavaco Silva - pelo menos, antes de uma tomada de posição. A sua candidatura é um imperativo categórico. Uma necessidade urgente.
Num tempo onde a incerteza cerceia a centelha da esperança, onde os paradigmas se desvaneceram na "twilight zone" do firmamento político, onde o aparelhismo partidário tolhe os reais anseios dos cidadãos, a putativa candidatura do Prof. é natural e sauda-se: o regresso de uma referência para um país à deriva!!!

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