quarta-feira, abril 28, 2004
Boa notícia
Hoje, mesmo que muitos insistam em negá-lo, houve uma notícia muito positiva. A suspensão do processo do déficit excessivo. Dirão alguns que não demonstra uma grande vitória económica. Pois bem, será... mas o alcance simbólico da mesma, é potenciador de um novo "élan" para o país. Um verdadeiro "prozac" para a falta de "animus" nacional. Como disse, mutatis mutandis , um dia Armstrong antes de pisar a Lua, será um pequeno passo para Portugal, mas um passo de gigante para todos os portugueses.
terça-feira, abril 27, 2004
Ana Sousa Dias
Ontem, na 2, Ana Sousa Dias não desiludiu e fez do Presidente da República um exímio contador de histórias. Pessoais e transmissíveis. Revelando um "outro lado" de Jorge Sampaio. Imperdível!!!
25 de Abril II
O artigo de Vasco Pulido Valente no DN, é uma pedrada no charco (link via Aviz). Merece alguma reflexão, senão muita. A perspectiva de que parte para encarar o período revolucionário, é original e acrescenta alguma novidade sobre a leitura do fenómeno. Desconstrói todo o imaginário de "Abril", ridicularizando-o, através de explicações quase prosaicas. Excepção feita ao papel de Cunhal - a quem não nega o mérito de ser um grande manipulador, baseado no pelágio da cartilha leninista - e Soares, o verdadeiro revolucionário.
Ora, e se bem que alguns pontos de vista sejam bem pertinentes, o seu artigo, vem na peugada da polémica do "R". Quanto a este aspecto, não pode haver dúvidas: houve revolução. Goste-se ou não. O regime político anterior caiu, caiu toda a elite dirigente, quer a política quer a económica.
No entanto, e aqui tem razão, não foi uma revolução no sentido da mudança total e brutal - um corte - a nível do perfil socio-cultural do país.
Quer a Revolução Americana, a Francesa, a nossa Revolução Liberal ou a Revolução de Outubro- tenho muitas dúvidas quanto à queda da Monarquia - pressuposeram um radical corte com as elites dominantes e, sobretudo, uma reordenação da estrutura social. Atente-se ao caso português. A Revolução Liberal foi o grito do Ipiranga da nova classe, então emergente, a burguesia - facto que transporta a marca indelével da Maçonaria. O que acarretou, mais do que uma mudança do "status quo", uma profunda alteração da mundividência do seu tempo, desde logo com a abolição da escravatura, o sufrágio directo e a valorização do individuo que levou ao surgimento das primeiras preocupações sociais, no seu sentido moderno.
Exemplo paradigmático, aliás, em Portugal, se dúvidas houvesse, é a observação da evolução das elites dominantes. Quase todos os títulos nobiliárquicos da alta e média Nobreza do Liberalismo, foram adquiridos ex novo - no sentido de que aí se iniciaram. Aliás, numa breve recolha de informação, facilmente se constatará que, dos títulos que a Casa de Bragança, actualmente, reconhece a esmagadora maioria deles são todos oitocentistas. O que demonstra, é bom de ver, como o Liberalismo afectou a estrutura social do "Ancien Régime". O mesmo é dizer relativamente à elite económica e cultural. Salvo meritórias excepções, quase todas as grandes famílias, do tempo da Monarquia, transitaram, incólumes para a República, e depois para o Estado Novo. Com o vinte e cinco de Abril, dá-se um esboço de rebelião, que, por algum tempo, atordoou a estrutura tradicional. Porém, e volvidos que são 30 anos, houve uma recomposição, diria mesmo integral, da estrutura social do vinte e quatro de Abril.
Da mesma forma, a alta burguesia nacional, é, grosso modo, a alta burguesia dos finais do séc. XIX. O mesmo se diga quanto à elite política nacional.
De facto, é bem certo que muito o país progrediu. E a todos os níveis houve enormíssimas alterações. Mas tal facto - e esse sim - não constituiu uma verdadeira revolução, mas uma profunda evolução. Porque a era que vivemos é de grandes mudanças. Por isso, as propaladas consequências de "Abril", são muito mais tributárias dos tempos hodiernos do que da Revolução ela própria.
Ora, e se bem que alguns pontos de vista sejam bem pertinentes, o seu artigo, vem na peugada da polémica do "R". Quanto a este aspecto, não pode haver dúvidas: houve revolução. Goste-se ou não. O regime político anterior caiu, caiu toda a elite dirigente, quer a política quer a económica.
No entanto, e aqui tem razão, não foi uma revolução no sentido da mudança total e brutal - um corte - a nível do perfil socio-cultural do país.
Quer a Revolução Americana, a Francesa, a nossa Revolução Liberal ou a Revolução de Outubro- tenho muitas dúvidas quanto à queda da Monarquia - pressuposeram um radical corte com as elites dominantes e, sobretudo, uma reordenação da estrutura social. Atente-se ao caso português. A Revolução Liberal foi o grito do Ipiranga da nova classe, então emergente, a burguesia - facto que transporta a marca indelével da Maçonaria. O que acarretou, mais do que uma mudança do "status quo", uma profunda alteração da mundividência do seu tempo, desde logo com a abolição da escravatura, o sufrágio directo e a valorização do individuo que levou ao surgimento das primeiras preocupações sociais, no seu sentido moderno.
Exemplo paradigmático, aliás, em Portugal, se dúvidas houvesse, é a observação da evolução das elites dominantes. Quase todos os títulos nobiliárquicos da alta e média Nobreza do Liberalismo, foram adquiridos ex novo - no sentido de que aí se iniciaram. Aliás, numa breve recolha de informação, facilmente se constatará que, dos títulos que a Casa de Bragança, actualmente, reconhece a esmagadora maioria deles são todos oitocentistas. O que demonstra, é bom de ver, como o Liberalismo afectou a estrutura social do "Ancien Régime". O mesmo é dizer relativamente à elite económica e cultural. Salvo meritórias excepções, quase todas as grandes famílias, do tempo da Monarquia, transitaram, incólumes para a República, e depois para o Estado Novo. Com o vinte e cinco de Abril, dá-se um esboço de rebelião, que, por algum tempo, atordoou a estrutura tradicional. Porém, e volvidos que são 30 anos, houve uma recomposição, diria mesmo integral, da estrutura social do vinte e quatro de Abril.
Da mesma forma, a alta burguesia nacional, é, grosso modo, a alta burguesia dos finais do séc. XIX. O mesmo se diga quanto à elite política nacional.
De facto, é bem certo que muito o país progrediu. E a todos os níveis houve enormíssimas alterações. Mas tal facto - e esse sim - não constituiu uma verdadeira revolução, mas uma profunda evolução. Porque a era que vivemos é de grandes mudanças. Por isso, as propaladas consequências de "Abril", são muito mais tributárias dos tempos hodiernos do que da Revolução ela própria.
domingo, abril 25, 2004
25 de Abril
E assim começou a revolução:
"Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
25 de Abril - Galeria
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder
Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós"
(Música de Paulo de Carvalho e letra de José Niza)
E...uma revolução que assim começa... com música... só pode ser uma revolução de Esperança, uma revolução romântica, de ideais, de LIBERDADE, de FRATERNIDADE, de SOLIDARIEDADE...de PAZ...!!! Como a guitarra de Carlos Paredes em "Despertar": um movimento telúrico de sensibilidade cujo epicentro provém, do mais profundo o inconsciente colectivo português.
A revolução como grito solto de uma longa mudez, vinda de um regime que amordaçava o corpo de um país, mas cuja alma sangrava em sofrimento e se regenerava em Esperança.
Como nos versos da "Trova do Vento que Passa":
"(...)Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não"
(Manuel Alegre)
E este NÃO, é como o "NINGUÉM" do Romeiro de Garrett...! É tudo! Este é o verdadeiro 25 de Abril...!
A revolução em que acredito não é a que muita Esquerda quis que triunfasse. Contra o Povo. Não é a do Pacto MFA/Partidos, não é a do Verão quente do Gonçalvismo, das Nacionalizações, do PREC. Esta foi a contra-revolução do MEDO. Que marcou, indelevelmente, um Povo. Que se revoltou num memorável 25 de Novembro - foi neste segundo 25 que o segundo se cumpriu. Este é o 25 de Abril que muitos comemoram. Aquele que deixou feridas nunca saradas, ressentimentos nunca aplacados, memórias tristes e de amargura. Foram tempos difíceis, de luta, de resistência. Onde a coragem do mesmo Povo foi, talvez, o garante de uma nova Liberdade que outros, em nome dessa mesma Liberdade, tentavam, agora, esventrar.
A minha Revolução é a Revolução de Sophia:
"Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo"
(Sophia de Mello Breyner)
A Revolução de um Povo em estado de graça: em sempre Esperança!!!
"Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
25 de Abril - Galeria
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder
Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós"
(Música de Paulo de Carvalho e letra de José Niza)
E...uma revolução que assim começa... com música... só pode ser uma revolução de Esperança, uma revolução romântica, de ideais, de LIBERDADE, de FRATERNIDADE, de SOLIDARIEDADE...de PAZ...!!! Como a guitarra de Carlos Paredes em "Despertar": um movimento telúrico de sensibilidade cujo epicentro provém, do mais profundo o inconsciente colectivo português.
A revolução como grito solto de uma longa mudez, vinda de um regime que amordaçava o corpo de um país, mas cuja alma sangrava em sofrimento e se regenerava em Esperança.
Como nos versos da "Trova do Vento que Passa":
"(...)Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não"
(Manuel Alegre)
E este NÃO, é como o "NINGUÉM" do Romeiro de Garrett...! É tudo! Este é o verdadeiro 25 de Abril...!
A revolução em que acredito não é a que muita Esquerda quis que triunfasse. Contra o Povo. Não é a do Pacto MFA/Partidos, não é a do Verão quente do Gonçalvismo, das Nacionalizações, do PREC. Esta foi a contra-revolução do MEDO. Que marcou, indelevelmente, um Povo. Que se revoltou num memorável 25 de Novembro - foi neste segundo 25 que o segundo se cumpriu. Este é o 25 de Abril que muitos comemoram. Aquele que deixou feridas nunca saradas, ressentimentos nunca aplacados, memórias tristes e de amargura. Foram tempos difíceis, de luta, de resistência. Onde a coragem do mesmo Povo foi, talvez, o garante de uma nova Liberdade que outros, em nome dessa mesma Liberdade, tentavam, agora, esventrar.
A minha Revolução é a Revolução de Sophia:
"Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo"
(Sophia de Mello Breyner)
A Revolução de um Povo em estado de graça: em sempre Esperança!!!
quinta-feira, abril 22, 2004
Espanha de cabelos em pé
A Espanha sofreu uma pesada derrota nas negociações relativas à Organização Comum do Mercado do azeite tabaco, algodão e lúpulo. Os Ministros dos Quinze lograram alcançar um acordo em que a Espanha nada recebeu, enquanto Portugal e França receberam 20 milhões de Euros de ajudas para a cultura do azeite. Aliás, Portugal recebeu 19,6 milhões de euros de ajudas concedidas às novas áreas de exploração de olival, ou seja referentes aos 30.000 hectares, que Portugal havia sido autorizado a plantar em 1998. Sevinate Pinto está de Parabéns. A Espanha "Zapatera" ressente-se... volta Aznar que estás perdoado!!!
Carmen Bin Laden
É cunhada do próprio (casada que foi com um irmão do terrorista Yeslam), e o seu livro, recentemente dado à estampa, é um "bestseller" por essa Europa fora. O nome do livro será qualquer coisa como "Um mundo distante. A minha vida com a família Bin Laden". Auguram-se revelações de alcova sobre um dos clãs mais famigerados do planeta. Segundo El Mundo , estará proibida de "regressar à Arábia Saudita, pois poderá ser acusada de adultério e condenada à morte".
Já agora... há outros filões - que não os clássicos do petróleo - que também são um bom negócio!!! Para os Bin Laden, claro!!!
Já agora... há outros filões - que não os clássicos do petróleo - que também são um bom negócio!!! Para os Bin Laden, claro!!!
quarta-feira, abril 21, 2004
Novos Links
Ser Português (Ter Que), O Observador e o Eclético. Uma palavra especial para o sempre atento e perscrutador Ecletico, e para o pertinente Observador.
terça-feira, abril 20, 2004
Valentim valentão
E é este o país do Futebol...!!!. Assim vamos...!!!
segunda-feira, abril 19, 2004
O país do Futebol
O Futebol é um fenómeno de primeira grandeza. Sem dúvida. E digo-o como o primeiro sócio familiar, que fui, do grandioso F.C.P.!!! Mas não é isto que me traz por aqui, mas antes essa valorosa companha publicitária que designará este tão belo recanto à beira mar afutebolado. Vem aí o libidinoso orgasmo nacional do Euro 2004. Os "tugas", como na gíria do futebolês se designam - "elevadamente" - aos detentores da nacionalidade portuguesa, sim, porque antes de um bom "tuga" ser português, ele é "águia", "dragão", "leão" ou "lagarto". Isto para sermos, minimamente, simplistas.
Mas, dizia, este país de futebol regalado e arregalado, depara-se com uma campanha publicitária única, milionária e de uma qualidade inexcedível. Aliás, já foi objecto de alguns prémios. A imagem de Portugal vai, com certeza, mudar por esse mundo fora, já que a promoção que o ICEP está a levar a cabo é inédita e inaudita, em termos de exaustividade. Ele é internet, jornais internacionais, televisões. Uma miríade de meios. Será que o Euro, já de si um fenómeno tão mediático, necessita de ser tão publicitado? Não bastará o seu valor próprio?
De facto, o objectivo parece ser outro e é a colagem que se pretende fazer de Portugal ao Futebol, para promover o país em termos turísticos. Pois bem, a mensagem que estamos a passar, é seguramente a de um país assustadoramente futebófilo. De facto, a colagem é tão intensa que não resta espaço para nada mais.
Ora, se por um lado, devemos aproveitar o mega acontecimento e daí retirar os devidos dividendos, isso não quer dizer que a imagem de Portugal se reduza, tão somente, a tão proeminente "happening".
Os meios e a intensidade dos mesmos, dispendidos pelo ICEP para a promoção, redundante, do Euro, deveriam era já ter sido utilizados parcimoniosamente, ao longo do tempo. E não de uma só vez. Portugal, felizmente, não é só um país de "tugas"...! E há mais com que o nosso país e sobretudo o ICEP se deveria preocupar. Aliás, as tão valiosas exportações, que seriam o garante da retoma e da vitória sobre o déficit, pelos vistos, não correram assim tão bem...! E então, quem promove os nossos produtos, os nossos industriais, a nossa economia, a nossa Cultura? É o ICEP?
sexta-feira, abril 16, 2004
Bloco
O Bloco de Esquerda, na sua actual "política do cartaz" lançou um... e peras...!
Perspicaz, incisivo, imediatista, e eficaz. Ninguém lhe fica indiferente... ei-lo:
Porém, sofre do mal de Saramago... a cegueira. Crónica.
O Bloco terá legitimidade de falar em verdades e mentiras? O Bloco, como bem o referiu o director do Público, vive da aparência caviar e "soft", de uma esquerda que se impõe pela moda e já, agora, também pelo fenómeno dos blogues. Aliás, o blogue do meu homónino Daniel Oliveira, é um deleite para esta esquerda "Frágil", que gosta de costureiros com uma "griffe" "hippy clean" - ressalve-se o paradoxo!!! Mas nada disto é novidade: o Bloco vem na peugada do Partido Comunista Português, que, no tempo do antes e pós 25 de Abril, era o partido dos intelectuais. De gente que defende a igualdade absoluta, sem classes sociais, para parecer superior. Dos pensadores de uma outra sociedade mas que vivem muito bem na que existe pois permite-lhes as veleidades de serem diferentes.
Este Bloco é tudo isto e muito mais. E neste mais, vem precisamente a falta de honestidade em assumirem-se. Como marxistas, leninistas ou trotskystas (do mal o menos). São revolucionários. Parecem novos. Simulam uma nova atitude política e cultural. Mas, bem lá no seu âmago, defendem uma senhora, velha, anquilosada, rezingona, com uma grande verruga no nariz: a ditadura do proletariado!!!
Veja-se o deleite com os cartazes revolucionários do 25 de Abril, um pitéu recesso e bafiento. E que é apresentado para ser digerido como curiosodade histórica, quando, bem no fundo, pretende retirar todo o sentido pejorativo, todo o valor simbólico, que lhes advém do período do Gonçalvismo, do Verão quente, em que as arbitrariedades eram mais que muitas e em que o Povo era esquecido para se alcançar uma Revolução em seu nome. E servir um qualquer comité central, que juncasse o país de sovkozes e kolkozes, que acabasse com a propriedade privada e colectivizasse todos os meios de produção. Porque a riqueza era uma infâmia: pretendia-se dizer. Quando a verdade é que se hipotecava a Liberdade e a Igualdade. Uma verdaeira operação de branqueamento histórico e político.
Por isso, o Bloco antes de acusar a mentira dos outros devia fazer era uma revisão de consciência. Talvez, todos nós ganhássemos com isso. A começar, claro está, pelos bloquistas.
Perspicaz, incisivo, imediatista, e eficaz. Ninguém lhe fica indiferente... ei-lo:
Porém, sofre do mal de Saramago... a cegueira. Crónica.
O Bloco terá legitimidade de falar em verdades e mentiras? O Bloco, como bem o referiu o director do Público, vive da aparência caviar e "soft", de uma esquerda que se impõe pela moda e já, agora, também pelo fenómeno dos blogues. Aliás, o blogue do meu homónino Daniel Oliveira, é um deleite para esta esquerda "Frágil", que gosta de costureiros com uma "griffe" "hippy clean" - ressalve-se o paradoxo!!! Mas nada disto é novidade: o Bloco vem na peugada do Partido Comunista Português, que, no tempo do antes e pós 25 de Abril, era o partido dos intelectuais. De gente que defende a igualdade absoluta, sem classes sociais, para parecer superior. Dos pensadores de uma outra sociedade mas que vivem muito bem na que existe pois permite-lhes as veleidades de serem diferentes.
Este Bloco é tudo isto e muito mais. E neste mais, vem precisamente a falta de honestidade em assumirem-se. Como marxistas, leninistas ou trotskystas (do mal o menos). São revolucionários. Parecem novos. Simulam uma nova atitude política e cultural. Mas, bem lá no seu âmago, defendem uma senhora, velha, anquilosada, rezingona, com uma grande verruga no nariz: a ditadura do proletariado!!!
Veja-se o deleite com os cartazes revolucionários do 25 de Abril, um pitéu recesso e bafiento. E que é apresentado para ser digerido como curiosodade histórica, quando, bem no fundo, pretende retirar todo o sentido pejorativo, todo o valor simbólico, que lhes advém do período do Gonçalvismo, do Verão quente, em que as arbitrariedades eram mais que muitas e em que o Povo era esquecido para se alcançar uma Revolução em seu nome. E servir um qualquer comité central, que juncasse o país de sovkozes e kolkozes, que acabasse com a propriedade privada e colectivizasse todos os meios de produção. Porque a riqueza era uma infâmia: pretendia-se dizer. Quando a verdade é que se hipotecava a Liberdade e a Igualdade. Uma verdaeira operação de branqueamento histórico e político.
Por isso, o Bloco antes de acusar a mentira dos outros devia fazer era uma revisão de consciência. Talvez, todos nós ganhássemos com isso. A começar, claro está, pelos bloquistas.
quarta-feira, abril 14, 2004
Para o Brasil - Peça teatral inspirada em "O Principezinho"
O Glosas agradece, penhoradamente, as simpáticas e generosas palavras, que nos foram endereçadas pelo Duc, que juntamente com Lyli são os autores de um excelente fotoblog. Parabéns.
Em cumprimento do seu justo "apelo" aqui fica a divulgação para aqueles - e parafraseando Duc : "(...) possíveis visitantes brasileiros (como eu) interessados (...)" - que há uma peça de teatro intitulada "O Principezinho" - e inspirada na obra homónina de Saint Exupery - que estreia dia 15, no Teatro Vanucci, Rio de Janeiro. O nosso ilustre visitante, Duc, assistiu ao ensaio e, das suas palavras deduzo, que a peça não só o terá "vencido" como "convencido". A não perder!!!
Em cumprimento do seu justo "apelo" aqui fica a divulgação para aqueles - e parafraseando Duc : "(...) possíveis visitantes brasileiros (como eu) interessados (...)" - que há uma peça de teatro intitulada "O Principezinho" - e inspirada na obra homónina de Saint Exupery - que estreia dia 15, no Teatro Vanucci, Rio de Janeiro. O nosso ilustre visitante, Duc, assistiu ao ensaio e, das suas palavras deduzo, que a peça não só o terá "vencido" como "convencido". A não perder!!!
domingo, abril 11, 2004
A nossa Fé
"A incredulidade de S. Tomé" Caravaggio
No dias que passam, em que o cérebro cibernético invade todos os aspectos da Vida Humana, a incredulidade de S. Tomé reaparece como uma das grandes questões da Fé. Acreditamos no que vimos, no que sentimos, no que podemos provar, através de um qualquer método experimental. Mas não seremos algo mais...?
Votos de uma Santa Páscoa
"A Ressurreição", El Greco
sexta-feira, abril 09, 2004
Ecce Homo
Porque hoje é Sexta-feira Santa
Caravaggio
Cristo, pregador do Amor e do Perdão...julgado...e sentenciado à morte...pelo Sinédrio...e crucificado pelos Romanos... simplesmente...por amar o próximo como a Si próprio. A mais fina subversão - a dádiva incondicional - volvidos 2000 anos, continua a ser crime. Os tempos mudam, a Humanidade permanece, imutável, debruçada sobre si e pelo peso do seu egoísmo. Restando, sempre, a centelha imortal da Esperança. Viva, que é, na irracionalidade da Fé.
Caravaggio
Cristo, pregador do Amor e do Perdão...julgado...e sentenciado à morte...pelo Sinédrio...e crucificado pelos Romanos... simplesmente...por amar o próximo como a Si próprio. A mais fina subversão - a dádiva incondicional - volvidos 2000 anos, continua a ser crime. Os tempos mudam, a Humanidade permanece, imutável, debruçada sobre si e pelo peso do seu egoísmo. Restando, sempre, a centelha imortal da Esperança. Viva, que é, na irracionalidade da Fé.
Antoine de Saint Exupery
A propósito da descoberta dos destroços do avião onde Saint Exupery seguia, um Lightning P38, numa missão de reconhecimento do terreno para preparar o desembarque das forças aliadas no sul de França, em 31 de Julho de 1944:
"Julgava-me muito rico por ter uma flor única no mundo e, afinal só tenho uma rosa vulgar...
Foi então que apareceu uma raposa .
- Olá, bom dia! disse a raposa.
- Olá, bom dia! - Respondeu delicadamente o principezinho...
-Anda brincar comigo - pediu o principezinho. Estou tão triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Ainda ninguém me cativou...
Andas à procura de galinhas? (diz a raposa)
Não... Ando à procura de amigos. O que é que "cativar" quer dizer?
... Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
Laços?
Sim, laços - disse a raposa. - ...
Eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo e eu serei para ti, única no mundo...(raposa) Tenho uma vida terrivelmente monótona...
Mas se tu me cativares, a minha vida fica cheia se Sol.
Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? ... não me fazem lembrar de nada. É uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então quando eu estiver cativada por ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti...
- Só conhecemos as coisas que cativamos - disse a raposa. - Os homens, agora já não tem tempo para conhecer nada. Compram as coisas feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não tem amigos. Se queres um amigo, cativa-me!
E o que é preciso fazer? - Perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada . A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas todos os dias te podes sentar mais perto...
Se vieres sempre às quatro horas, às três já eu começo a ser feliz...
Foi assim que o principezinho cativou a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa - Ai que me vou pôr a chorar...
... Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...
Depois acrescentou:
- Anda vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo.
O principezinho lá foi... - vocês não são nada disse-lhes ele. - Não há ninguém preso a vocês... - não se pode morrer por vocês...
... A minha rosa sozinha. vale mais do que vocês todas juntas, porque foi a ela que eu reguei, que eu abriguei... Porque foi a ela que eu ouvi queixar-se, gabar-se e até, às vezes calar-se. Porque ela é a minha rosa.
E então voltou para ao pé da raposa e disse:
- Adeus...
- Adeus - disse a raposa. - vou-te contar o tal segredo. É muito simples:
Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. Mas tu não te deves esquecer dela.
Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa..."
In "O Principezinho"
"Julgava-me muito rico por ter uma flor única no mundo e, afinal só tenho uma rosa vulgar...
Foi então que apareceu uma raposa .
- Olá, bom dia! disse a raposa.
- Olá, bom dia! - Respondeu delicadamente o principezinho...
-Anda brincar comigo - pediu o principezinho. Estou tão triste...
- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Ainda ninguém me cativou...
Andas à procura de galinhas? (diz a raposa)
Não... Ando à procura de amigos. O que é que "cativar" quer dizer?
... Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.
Laços?
Sim, laços - disse a raposa. - ...
Eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo e eu serei para ti, única no mundo...(raposa) Tenho uma vida terrivelmente monótona...
Mas se tu me cativares, a minha vida fica cheia se Sol.
Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? ... não me fazem lembrar de nada. É uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então quando eu estiver cativada por ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti...
- Só conhecemos as coisas que cativamos - disse a raposa. - Os homens, agora já não tem tempo para conhecer nada. Compram as coisas feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não tem amigos. Se queres um amigo, cativa-me!
E o que é preciso fazer? - Perguntou o principezinho.
- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada . A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas todos os dias te podes sentar mais perto...
Se vieres sempre às quatro horas, às três já eu começo a ser feliz...
Foi assim que o principezinho cativou a raposa. E quando chegou a hora da despedida:
- Ai! - exclamou a raposa - Ai que me vou pôr a chorar...
... Então não ganhaste nada com isso!
- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...
Depois acrescentou:
- Anda vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo.
O principezinho lá foi... - vocês não são nada disse-lhes ele. - Não há ninguém preso a vocês... - não se pode morrer por vocês...
... A minha rosa sozinha. vale mais do que vocês todas juntas, porque foi a ela que eu reguei, que eu abriguei... Porque foi a ela que eu ouvi queixar-se, gabar-se e até, às vezes calar-se. Porque ela é a minha rosa.
E então voltou para ao pé da raposa e disse:
- Adeus...
- Adeus - disse a raposa. - vou-te contar o tal segredo. É muito simples:
Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...
Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.
- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. Mas tu não te deves esquecer dela.
Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa..."
In "O Principezinho"
quarta-feira, abril 07, 2004
Turismo sustentável
A National Geographic Society, acaba de publicar a lista dos locais mais visitados a nível mundial, seleccionando um conjunto de 115, eminentemente, turísticos. Destes destinos, pretende-se valorizar aqueles que têm conseguido conservar a sua identidade e integridade. Ou seja, onde o turismo não tenha afectado de forma irremediável, o meio envolvente, nas suas mais variadas vertentes, desde humanas a culturais. Para tal foi utilizada uma escala ascendente até 100. E, onde, o valor médio da lista foi de 62. De Portugal aparece o Centro Histórico do Porto com 61, e o Algarve, bem para o fundo da tabela, com 46, sendo o valor mínimo o da Costa do Sol, em Espanha com 41, e o valor máximo, de 81, atribuído aos fiordes noruegueses.
Pequenas coisas
Tenho por gosto e por hábito ler sempre um "estória" - ou algumas - para as minhas filhas, antes de adormecerem. Desde os livrinhos do Pooh, ao Koda, aos clássicos de Perrault, dos irmãos Grimm, e da Condessa de Ségur, passando pela Anita, aos contos tradicionais portugueses, ou os consagrados heróis da Disney, para não falar dos já consagrados autores de literatura infantil como a Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, enfim.... Porém, recentemente vi estes dois livros...
da autoria de Rui Zink, e ilustrados por Manuel João Ramos. (Já surgiu mais um livro da série que não li "O bebé que... fez uma birra").
São livros extremamente despojados, simples, dir-se-ia quase austeros. A "estória" é pequenina, despretenciosa, com uma linguagem muito acessível, como o seu público. Mas, juntamente com as ilustrações, resulta extremamente eficaz e apelativa, prendendo a atenção dos pequeninos, como poucos livros. Onde a curiosidade vai crescendo, ao ritmo de cada página. E tudo isto, porque fala do essencial: a trindade pai/mãe/filho! Com muita, muita ternura.
da autoria de Rui Zink, e ilustrados por Manuel João Ramos. (Já surgiu mais um livro da série que não li "O bebé que... fez uma birra").
São livros extremamente despojados, simples, dir-se-ia quase austeros. A "estória" é pequenina, despretenciosa, com uma linguagem muito acessível, como o seu público. Mas, juntamente com as ilustrações, resulta extremamente eficaz e apelativa, prendendo a atenção dos pequeninos, como poucos livros. Onde a curiosidade vai crescendo, ao ritmo de cada página. E tudo isto, porque fala do essencial: a trindade pai/mãe/filho! Com muita, muita ternura.
segunda-feira, abril 05, 2004
Novo Blog
Ainda Saramago
A explicação que o Nobel português da literatura adianta para a explicação do seu nóvel livro é, ela própria, mais que bem intencionada. É verdadeira. De facto a Democracia está em crise. Mas será que a sua preocupação é genuína??? Cremos que não. Muito simplesmente a entrevista ao Mil Folhas é inadmissível: Mil Folhas: "Como vê hoje a situação cubana!?
J.S. : "Vejo como via antes. Mas se você me pergunta : vê a acção do voto em branco aplicada a Cuba? Com certeza, não é excepção"
M.F. : "Sim, mas não é possível!
J.S. : "Como é que não é possível? Claro que sim! Há eleições em Cuba que não vou discutir agora..."
M.F. :"Considera a eleições em Cuba democráticas?"
J.S. : "Eu não considero nada. Nunca as vi! Não sei o que é que se passa. A única coisa que sei que se passa é o seguinte: os cidadãos vão por um papel nas urnas e isso é votar. Democrático ou não isso é votar, ainda que tivéssemos de discutir se as pessoas foram impelidas, arregimentadas, se foram assim, se foram assado."
M.F. : "Mas é um regime de partido único."
J.S.: "Oviamente, mas vamos lá ver... também não sei como são os boletins de voto em Cuba(...)"
Saramgo propõe a quadratura do círculo: defender a democracia por um lado, e pugnar pelos seus antípodas, por outro. Haja coerência...!
J.S. : "Vejo como via antes. Mas se você me pergunta : vê a acção do voto em branco aplicada a Cuba? Com certeza, não é excepção"
M.F. : "Sim, mas não é possível!
J.S. : "Como é que não é possível? Claro que sim! Há eleições em Cuba que não vou discutir agora..."
M.F. :"Considera a eleições em Cuba democráticas?"
J.S. : "Eu não considero nada. Nunca as vi! Não sei o que é que se passa. A única coisa que sei que se passa é o seguinte: os cidadãos vão por um papel nas urnas e isso é votar. Democrático ou não isso é votar, ainda que tivéssemos de discutir se as pessoas foram impelidas, arregimentadas, se foram assim, se foram assado."
M.F. : "Mas é um regime de partido único."
J.S.: "Oviamente, mas vamos lá ver... também não sei como são os boletins de voto em Cuba(...)"
Saramgo propõe a quadratura do círculo: defender a democracia por um lado, e pugnar pelos seus antípodas, por outro. Haja coerência...!
sexta-feira, abril 02, 2004
A propósito de Saramago...
Saramago é sinónimo de polémica. As suas finas qualidades de escritor, revelam uma mente sempre à procura, sempre a auscultar a realidade, que lhe serve de inspiração. A musa que lhe acalenta o talento, é pródiga no seu mister.
Porém, na sua vida pública, como cidadão, os seus comportamentos deixam muitas dúvidas. No mínimo. Ora, isto remete-nos para a velha questiúncula do papel do intelectual no seu tempo. As suas responsabilidades, os seus actos e o reconhecimento do seu génio, tudo enquadrado na sua vida pública.
O exemplo clássico do paradigma do génio versus cidadania chega-nos com Richard Wagner. Nele se encerra toda a questão da separação ou não, do homem concreto e histórico que subjaz ao artista. Wagner, compositor maior oitocentista, nascido em Leipzig foi também um intelectual, activista político e revolucionário, pois, nas suas "óperas" ( não era assim que as designava), reside todo o seu génio a par com o elogio do que viria a ser a génese dos ideais nacional-socialistas. Entre seus mais importantes trabalhos estão The Flying Dutchman (1843), Tannhäuser (1845), Lohengrin (1850), Tristan und Isolde (1865), Parsifal (1882), e sua grande tetralogia, The Ring of the Nibelung (1869-76). Toda a sua obra reflecte um certo cepticismo antropológico, tributário, largamente, do pensamento de Schopenhauer. Tal facto proporcionou-lhe a inspiração para um novo modo, um novo olhar sobre a música, precisamente, como instrumento ideal para transmitir todo esse pessimismo no Homem. Daí a busca dos acordes dissonantes, como fugas de uma realidade dura e cobarde que amordaça. A harmonia do acorde barroco ou mesmo romântico, não condiz com a condição humana. A harmonia, o equilíbrio não é possível. Todos estes conceitos foram também transcritos em várias obras impressas como Die Kunst und die Revolution ("Arte e Revolução") Das Kunstwerk der Zukunft ("A Arte do Futuro"), Eine Mitteilung an meine Freunde (Uma comunicação a meus amigos"), e Oper und Drama ("Opera e Drama"). Note-se que, este último trabalho foi de extrema importância, por delinear um novo e revolucionário tipo de teatro musical (a "sua" ópera).
A sua personalidade genial, realmente não pode ser dissociada do seu percurso. Wagner almejou a criação de um estado socialista, e foi, decididamente anti-semita, tendo denunciado o que chamou de "judaízação" da arte moderna, para o que reclamou uma "guerra de libertação".
Aliás, toda este fel, destilou-o talentosamente na sua obra maior " O anel dos Nibelungos" onde entrecruza, a preocupação com o nacionalismo alemão, ou seja, remete para o universo germânico mítico-tradicional, o socialismo internacional, a filosofia de Schopenhauer, o cristianismo; e em outro nível, o tratamento de temas que Freud desenvolveria depois na psicanálise, como o poder dos complexos com origem na inibição sexual, incesto, fixação materna e complexo de Édipo. É, por sinal, esta obra emblemática, que o levou a criar um teatro especial e daí nasceu o teatro Bayreuth, na Bavária.
Ora, é toda a sua obra que é indissociável do seu pensamento e personalidade. Será Wagner, realmente, tão genial como, de uma forma "asséptica" e neutra, poderíamos pensar? Parece que não, toda a sua obra está imbuída de um pan-germanismo exacerbado, de uma busca pela raça perfeita, a ariana, e por uma aversão figadal aos judeus. Tal facto é intolerável, e sempre que se fale de Wagner é obrigatório a referência a todo este património, altamente negativo, que consigo transporta. O mesmo se diga relativamente a Saramago: as suas incoerências não podem ser olvidadas, pois deixam, fatalmente, uma marca indelével na sua obra. Desde a defesa do opressor Fidel, à ideologia comunista (na linha dura do PCP), de que ainda não se retractou, até à pseudo defesa dos terroristas, encontrando sempre argumentos que se não os justificam, pelo menos os toleram.
Por isso, mais do que a centelha da genialidade criadora, releva o exemplo do respeito pela coerência, pela humildade, e pelos valores de uma sociedade fraterna, livre, igual e solidária.